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A honra de escrever sobre a Copa

A honra de escrever sobre a Copa

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PREMISSA

O pontapé inaugural desta Copa do Mundo foi dado numa quinta-feira, dia 14 de junho. Enquanto lá no Estádio Luzhniki de Moscou a Rússia iniciava seu massacre contra a Arábia Saudita, daqui do Brasil eu sabia que vinha um mês e tanto pela frente. Sim, era mês de Copa do Mundo, portanto já seria um período glorioso de se acompanhar. A minha ideia, no entanto, ia mais longe. E não só foi longe, como ultrapassou a fronteira!

No agora distante 14 de junho eu virei a chave. Qualquer outro assunto, a partir dali, ficaria de lado. O negócio era dedicação total ao maior evento do planeta. As meta, um tanto ousada: produzir conteúdo diariamente com crônicas e contos que buscassem o lado lúdico do futebol. Nada de resenha, nada de análise tática, nem perfis, nem curiosidades. Nestas searas existem aos montes gente por aí.

Como mais do mesmo nunca foi a minha praia, ansiava resgatar as crônicas de Nelson Rodrigues, Armando Nogueira e Eduardo Galeano, gente que tratava o futebol como arte, como paixão, como algo que toca o fantástico. Com todos respeito e admiração aos mestres, neles me espelhei e, imbuído dos ensinamentos de Walt Disney, mirei no impossível, porque lá a concorrência é muito menor.

A premissa era que os artigos não se restringissem a fatos. Não no resultado final do texto, que fique claro. O fato sempre foi a origem, o ponto de partida, mas não a linha de chegada. A intenção era pescar um aspecto de um jogo e construir uma fábula sobre ele. Ir puxando o fio da meada até o sótão da imaginação. Fazer literatura, algo atemporal, que não tivesse prazo de validade, que não fosse datado. Futebol é fantasia, afinal.

E assim foi feito!

PRODUÇÃO E EXAUSTÃO

Nestes 33 dias corridos, assisti a 54 jogos. Sete deles foram ignorados pelas rodadas duplas (o Grupo H conseguiu a proeza de ter transmissão simultânea na TV e no computador). Mais 3 jogos foram perdidos na íntegra já no segundo dia de Copa, uma sexta-feira de compromissos profissionais que me fez não assistir ao vivo o baile de Cristiano Ronaldo contra a Espanha – embora este desempenho sobrenatural tenha virado crônica e conto.

Nestes sublimes e inesquecíveis 33 dias, foram 51 textos escritos, fora as inúmeras incursões nas redes sociais enquanto a bola rolava. Alguns de que me vanglorio, outros que poderiam ter sido melhores. Teve caso daqueles que achei que não iriam tão bem, mas bateram asas, enquanto outros que julguei serem propensos ao gosto de geral, só que não.  De que sabemos nós, afinal?

Não foi trabalho sem dose de sacrifício. Porque enquanto o aniversário do sobrinho rolava à toda, eu tinha que parar para falar sobre Uruguai e Portugal. Ou em dia de jogo do Brasil, a galera se esbaldando, e eu tendo que arrumar concentração para alinhavar linhas, alheio. Ou quando um amigo fez festa de aniversário conjunta dele e da esposa em pleno Domingo da final, tive que me ausentar da celebração para buscar um canto e mandar bala em dois artigos com hora marcada. Também quando outras agendas profissionais surgiam, era um tal de empurrar uma data daqui pra lá para quando não tivesse jogo – e nestes dias sem jogos, houve escrita do mesmo jeito. Sem contar as muitas noites de poucas horas de sono, anotações e organizações mentais.

Quaisquer que fossem os impassem – foram mínimos, convenhamos -, no entanto, havia a certeza de que valia a pena. Sentia-me vivo, feliz, satisfeito. Produzia, mas não parecia trabalho. De fato, conferi veracidade à frase Confúcio, e fazendo o que amo fazer, não tive que trabalhar um dia sequer.

AGRADECIMENTOS

E já que entrei na linha do profissional, alguns agradecimentos importantes.

Primeiro a Herbem Gramacho e à equipe do Correio (especialmente a Ivan, Miro e Nanda). Toparam a ideia da Crônica do dia no site e ainda dominei a página 2 do impresso em todas as segundas-feiras liberadas para o esporte. Foram 32 crônicas on-line, mais 4 páginas 2 no impresso (e repeteco no on-line, claro). Sempre na capa do portal! Quem chegava se deparava com a crônica do dia pronta para ser consumida.

Agradecimentos são devidos também a Diego Iraheta, editor-chefe do HuffPost Brasil, por ter apostado nos episódios do Casal Anti-Copa, série criada para satirizar essa gentalha mal-humorada que quer estragar a diversão dos outros. Gentinha que segue à risca o grande ditado baiano, “feijoada que eu não como eu boto o dedo pra azedar”.

Em ambos os casos, a liberdade criativa foi irrestrita. Não houve sequer um senão, um talvez, um veja bem, um “muda isso aqui”. Pelo contrário. No tapa final vieram sugestões que incrementavam o texto ou lembravam de algo que tinha, por esquecimento ou desatenção, ficado de fora. As intervenções apenas enriqueceram o palavrório.

Foi um orgulho danado e um privilégio imenso ter tocado esse barco com vocês! Como brinde, o fato de poder colocar no meu currículo que fiz parte da cobertura de uma Copa do Mundo em dois veículos imensos. Estou que eu não caibo em mim!

PRÓXIMOS PASSOS

E agora não vai ter muito descanso, não. Nem o tal do tempo para desintoxicação. Vou virar a chave de novo. De volta ao mundo normal. Nárnia é passado, viremos o corpo à surrealidade tupiniquim. Volto, enfim, aos contos, às crônicas, aos ensaios, aos perfis, às sátiras. Os planos são muitos. Série especial sobre eleições, teste de novas mídias, entrevistas e reportagens, uma nova aparência do site, novos lugares para escrever e o melhor de tudo: um livro! Sobre ele, em breve, trago mais informações. Aguarde e confie.

Como agradecimento final, claro, me dirijo a vocês que tiveram a paciência de ler algo que tenha saído por este canal. E foi bastante gente! Gente de dentro e gente de fora, gente de perto e gente de longe, gente que lê, comenta e compartilha e gente que só espia, gente que gostou e gente que veio para criticar. Teve de tudo e foi lindo demais. A vocês, às milhares de pessoas que acessaram o Papo de Galo, às dezenas de milhares que apareceram via HuffPost e às centenas de milhares que leram no Correio, meu muito obrigado.

Digo que valeu! Valeu demais!

Copa do Mundo, sua linda, até 2022.

Tóquio, me aguarde. Te vejo lá!

Bora pra próxima!

Leia todos as Crônicas da Copa AQUI!

Leia os episódios do Casal Anti-Copa AQUI!

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