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A nova cartilha da língua portuguesa

A nova cartilha da língua portuguesa

Nunca fui um fã da reforma ortográfica da língua portuguesa implantada em 2009. Jamais poderia imaginar aceitável uma reforma que, ao invés de universalizar o entendimento do idioma rebaixou todos a um nível de compreensão menor da língua e distribuiu regras incoerentes e descabidas a conceitos previamente discutidos e conhecidos. Pois muito bem, a pulga atrás da orelha deu-me uma mordida e levantou a bola do “até onde podemos ir com os arroubos contra a nossa língua-mãe”? Chegou 2011 e, pronto!, cá estamos com a extensão do assalto à correção e ao bom senso.

O novo livro didático adotado pelo MEC primeiramente levanta a questão da mensagem que é passada de que agora não é necessário que você saiba da língua portuguesa. Se exigirem do estudante conhecimento, que se alegue ‘preconceito linguístico’. Pois muito bem, essa é realmente uma questão importantíssima a ser levantada. Qual o próximo passo? Que ao ser demitido de um emprego alegando-se baixa produtividade, que o funcionário possa reclamar contestando ‘preconceito trabalhístico’? E quando alguém for aplicar um teste simples de verificação de conhecimento para um emprego, todo mundo estará apto?

Veja bem o pecado da situação, aquilo que o brasileiro adora: o nivelar-se por baixo. Dada a diferença existente entre o conhecimento de um ou outro grupo, em vez de criar-se o estímulo correto para que o grupo de menos conhecimento alcance o com mais, não, eleva-se os esquecidos a corretos. Bravo!, palmas!, bradam alguns poucos loucos que podem fazer crer que essa seja uma situação minimamente razoável.

Virará a gramática brasileira um modelo de composição de música baiana: pegue um monte de palavras soltas, não precisa haver concordância entre si, e terá sua frase pronta, correta!

Não iremos aqui discutir esse mérito, por não haver um. Amplia-se o medo em minha espinha ao perceber que o que está em pauta é ainda mais grave, de mais longo prazo: o governo jogou a toalha para a educação brasileira.

O desenrolar é simples e extremamente preocupante: primeiro, a certeza de que o governo jamais será capaz de fornecer educação de qualidade, então, que mude o conceito do que é aceitável; depois, a consequente melhora nos índices de educação nacionais, historicamente péssimos.

O conceito é matemático, simples até. Há duas maneiras de se melhorar o resultado de uma fração (no caso aqui, o numerador são as notas obtidas em sala de aula e o denominador é o nível de exigência, o 10): ou aumentar o numerador, o que implica esforços gigantescos do governo para fornecer educação de qualidade à população, dever do estado que está sendo negado ao povo; ou então diminuir o denominador, no caso a exigência, extremamente simples, básico, sem qualquer esforço e ainda mantém o sistema intacto. Afinal, se antes exigindo-se 10 a média era 5, agora exigindo-se 5 valendo 10, todos tiram 10, e o Brasil sobe nos indicadores educacionais mundo afora.

E viva a revolução educacional!

Chega a ser perverso o que está acontecendo. Que saiamos a Haia exigindo julgamento por crime contra os Direitos Humanos. Levemos a matemática embutida nessa conta macabra do governo.

Até sugiro a estratégia de defesa, nesse caso: se 1 + 1 é igual a dois, por que não dizer que há diversas interpretações para esse teorema matemático? Afinal, diversas profissões trabalham com alternativas a este resultado, em especial contadores, economistas e estatísticos… E quem ousar questionar tão simplório problema, que seja içada a próxima bandeira da educação brasileira: o preconceito matemático.

Estou eu, nós todos, aqui, sendo vítimas de outro tipo de preconceito: estão passando o povo brasileiro por idiota, estão nos levando por estúpidos. Insultam nossa inteligência.

Preciso de um Plasil.

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