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Agora eu vou

Agora eu vou

– Opa! Peraí, eu conheço você!
– Claro que me conhece, pode ser que você não me reconheça…
– Ah, claro! Essa infâmia toda é a sua cara!
– Ah, obrigado pela consideração.
– Não foi nada. Aonde você vai?
– Nem te conto…
– Por quê? Conta, ué!
– Como é que eu vou contar se eu não sei bem para onde estou indo?
– Não sabe? E vai por quê?
– É justamente esse o ponto! Fiquei todo esse tempo esperando para ir, até que finalmente vi que não haveria convite algum. Daí…
– Mas você volta?
– Espero que não. Ou talvez de vez em quando, somente para visitar!
– Mas e suas coisas, você vai deixá-las todas para trás?
– Resolvi deixar muitas coisas de lado para poder seguir, tenho que ir leve… Olhe, não comece com essa história, não! Já tive que conversar muito comigo mesmo, quer dizer, com você mesmo, enfim, para poder me convencer que tinha que deixar quase tudo de lado.
– Você não tem medo?
– Tinha muito. Hoje, estou congelado de medo.
– Ahn?
– Mas é um medo diferente. Antes paralisava. Hoje, dá um frio na barriga, estou praticamente nevando por dentro, mas quero seguir em frente.
– E se o caminho não for bom?
– Ao menos terei tentado.
– E se falhar?
– Já corro esse risco aqui.
– Mas aqui é menos arriscado…
– Mas o dá para esperar de lá é bem maior que o daqui! Quero o risco, ainda sou novo! Imagino o quanto eu posso ganhar!
– Imagine o quanto você pode perder…
– Imagino o quanto eu posso sonhar!
– Imagine quando você acordar…
– Imagino o quanto eu posso crescer!
– Ah, retrair-se e esconder-se pode ser um excelente caminho.
– Cale-se! Cansei de você. Já decidi.
– Tem certeza?
– Não.
– Mas…
– Sem mais mas. Já falei, minha decisão está tomada.
– Tem certeza?
– Não. Mas agora, eu vou.

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