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Ah, essas moças

Ah, essas moças

(por Paulo Galo Toscano de Britto)

“Merda de inflamação do caralho”, pensava eu arrastando-me ontem da casa de Volney à casa de minha mãe, 60 metros com gostinho de maratona para quem tem um quadril em litígio com o fêmur, quando vi a rua Direita de Santo Antônio iluminar-se instantaneamente para que aquela morena passasse, em direção do velho Largo.

Picolé à boca, vestido predominantemente branco balançando por sobre um corpo exuberante e reluzente, que dançava ao ritmo dos largos quadris, extensão inversa de uma improvável cintura fina e seios na exata medida da palma de uma mão, da palma da minha mão.

Sua aproximação permitia observar o fino acabamento dos pés, mãos e tornozelos. Sabia das coisas Carybé, quando sublinhava gostosamente as extremidades delas.

Olhos doces, traços delicadamente esplêndidos à bordo de um par de sandálias baixinhas, a caminhar gostosamente em minha direção. Tudo em sua volta era reverência e contemplação.

Senti o perfume de seu pescoço quando finalmente cruzou comigo, no exato instante em que comprimia os lábios traçados por Di Cavalcanti no último pedaço do picolé.

Voltei o corpo para apreciar o grand finale, a bunda daquela mulata, que já mostrara-se larga ao vir e agora proeminentemente redonda ao ir.

Gostosa, gostosa, gostosa…

Bem antes que a visão não mais conseguisse me trazer toda aquela lindeza, fez-se noite em meu viver. Graciosamente, a moça descartou palito e embalagem ali mesmo, na franja da rua.

E seguiu, linda e indiferente ao meu desencanto.

Merda de inflamação do caralho.

Este texto foi escrito pelo meu pai, Paulo Galo. Link, aqui, pro original no finado há anos Blog do Galinho, publicado em 30 de junho de 2008.

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