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Alê: oi, pai

Alê: oi, pai

Alê, Ushuaia, filho

Oi, pai,

Minha pouca idade impede que eu saiba como falar o que eu sinto. E eu sinto muita coisa, sabe?

Sinto um amor imenso, mas ao mesmo tempo um muito ciúme de minha irmã. Como é possível isso? Gostar e desgostar ao mesmo tempo?

Sinto vontade de correr, tenho muita energia. Corro, corro, corro e não quero mais parar.

Sinto um desejo incontrolável de ver TV, gosto de desenhos! Será que tem alguém que não gosta? Acho que fico até surdo, falam comigo e não consigo ouvir.

Sinto raiva quando algo me desagrada. Eu perco o controle, fico nervoso, sabe?

Sinto também, muitas vezes, uma vontade de ficar quieto, entretido com meus botões. É que ficam vindo um monte de ideias na cabeça e eu sem saber direito o que está acontecendo.

A verdade é que lidar com essa coisa de crescer é complicado. Até que ponto eu sou criança? Qual o sentido de crescer? E como a gente sabe que cresce? Pelo tamanho? Pelos dentes que caem e nascem de novo? Pela matéria da escola que vai ficando mais difícil? Como é falar que nem gente grande?

Me ensina?

Sei que você está longe, mas eu tenho a mamãe e a Bela, e está tudo bem.

Enquanto isso, sei apenas sentir. E dentro de todos os sentimentos que minha pouca idade impede que eu saiba falar, e até de entender, tenho certeza de um: sinto sua falta todos os dias.

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