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Assumir lados não implica distorcer fatos

Assumir lados não implica distorcer fatos

O processo eleitoral ou de qualquer outra espécie nos EUA atende a uma necessidade de franqueza que a população demanda. Não é raro que jornais, televisões, personalidades públicas assumam suas preferências, o que abre as cartas do jogo no começo, evitando divagações e alegações de segundo nível. O ser criterioso na manutenção da informação, no entanto, permanece intacto. Independente do lado que apoie, fato é fato e não deve ser distorcido.

Em 1922 foi fundada a American Society of Newspapaer Editors, que publicou o que chamou de “Canons of Journalism”. São:

  1. Responsabilidade (de quem escreve e de quem publica)
  2. Liberdade de imprensa (um direito vital da humanidade)
  3. Independência (fidelidade ao interesse público)
  4. Sinceridade, veracidade e precisão (boa-fé para com o leitor)
  5. Imparcialidade (reportagens livres de opinião ou viés)
  6. Jogo Limpo, Decência  (reconhecimento de direitos privados e rápida correção de erros).

Eis que o ano de 2010 apresentou um cenário que fere todo e qualquer princípio do bom jornalismo. De um lado, o batalhão de Veja, Estadão e Folha de SP; de outro, Carta Capital e IstoÉ. E ninguém praticando o exercício de imprensa.

As capas de Veja e IstoÉ são as mais emblemáticas. Suas matérias de capa beiram a panfletagem barata. Conseguem ferir e abandonar a todos os 6 princípios listados acima por conta de uma posição ideológica barata, pautada pelo preconceito e pelo divulgacionismo. Fere-se a alma verificar como questões pretensamente sérias são distorcidas e apresentadas ao público como fatos. Um subalterno conhecido de uma amiga que trabalha com o primo do vizinho de alguém que disse conhecer outro integrante do governo bradou que viu um monte de dinheiro na gaveta; daí uma reunião de empresários na qual um parente de quinto grau do colega de escola da namorada do irmão do garçon que estava por lá diz que um cacicão vai mudar de partido.

Factoides existem para fortalecer boatos, tão somente. Aqueles que divulgam as tão propagadas verdades por aí com frases ridículas como “vamos fazer uma versão for dummies e mandar para o Nordeste”, ou então “se você não vota x é preconceituoso” compactuam com a inverdade. Propagam a certeza de que o Brasil não está preparado para uma evolução de imprensa encontrada em países desenvolvidos, que se caracteriza pela fidelidade ao real. O Brasil ouve apenas aquilo que quer ouvir e ponto final. Esquece o debate, esquece o diálogo. É o bem contra o mal; o bonito contra o feio; o certo contra o errado. Para quê tanto movimento a ferro e fogo? E se ao invés de impor um ponto de vista as pessoas não tentassem o convencimento?

O povo quer uma imprensa desenvolvida. Esquece, no entanto, que antes é necessário crescer num aspecto que ainda passamos longe de ter adquirido: a liberdade de raciocínio.

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