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Axé, o filme

Axé, o filme

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A Bahia é uma brincadeira, meu amigo. Há de se despir de intenções e objetivos para usufruir as benesses de um lugar em que surreal e fato dividem a cama lado a lado, abraçados.

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Tenho tido cada vez maior inclinação às coisas da Bahia. Tem coisas, minha gente, que só a Bahia faz por você. Sempre esteve no povo o charme e a magia de um lugar abençoado.

Nessas de sabe-se-lá-como, caí tropeçando num pequeno vídeo com teaser para o filme “Axé, canto do povo de um lugar”, de Chico Kertész. Acabei por assistir em sequência as vinhetas disponíveis. Maravilhado, procurei onde estava passando. Pois vi que documentário disponível no GNT.doc, programa do canal da Globosat. Sem pensar duas vezes, liguei a TV e projetei pelo aplicativo.

Sem receio de parecer exagero, entendendo que até terá um pé ali no superlativo, “Axé, o filme” é um retrato delicioso da Bahia. O recorte histórico que Chico conseguiu desenhar flui com naturalidade. As partes por vezes se interpõem no tempo, um vai-e-vem que em nada desmerece o filme, pelo contrário. Esta mola acontece de acordo com a linha-mestra conduzida no momento, por estilo. Um emaranhado de fios da meada que compõem um enredo mágico.

Não foram poucas as vezes que me vi emocionado durante a exibição. A voz embargada numa canção que não consigo balbuciar. Cada trecho toca fundo na minha alma de criança, de quem viu pela primeira vez, aos 13 anos, o rebu acontecendo no Carnaval de 1996, sem compreender a magnitude do que se passava, mas sabia que era bom.

O grande mérito do trabalho no filme é conseguir transportar quem assiste a viver a época. Esta transposição do presente na entrevista ao riquíssimo acervo coletado pelo diretor não se sobressalta. E quanta imagem! As de antanho são o que de melhor a Bahia pode oferecer. O povo em êxtase, em transe, aproveitando o Carnaval da Bahia no máximo de suas capacidades. Lá no quando o correto era realmente brincar, não pular, carnaval.

Todos os entrevistados formam uma sequência de frasistas, habilidade disseminada em todos que têm a sorte de terem vindo ao mundo na Boa Terra. A espontaneidade das entrevistas garante um sentimento de acolhimento, de proximidade, de que estamos na sala da casa de cada um. À vontade como se com pés descalços sobre a mesa, ou visita abrindo a geladeira, ou aquele cheiro de café passado na hora. A confluência de astros e estrelas garantiu a atmosfera cósmica. Todos com orgulho de dizerem baianos, de nascença e crescença. É real, é palatável, não há desconfiança. É verdade na veia, no gogó, na tela.

Axé, manifestação de energia, virou mais do que estilo musical. Virou movimento que engloba tudo o que é produzido na Bahia. Como bem disse o maestro Letieres Leite, “quando saiu no teclado Roland ‘Axé 1’ e ‘Axé 2’, pronto!, vai existir pra sempre.”

Vai, até porque, além do ritmo no teclado, hoje o movimento tem um legítimo e fiel elemento contador de sua história. Há de se exaltar o trabalho primaz de Chico Kertész. Não deixa a bola pingar no piegas e conduz uma película a ser vista com um constante sorriso no rosto, que evolui a gargalhadas num piscar de olhos. Para ver e rever sem moderação. Até porque essa tal de moderação é senhora desconhecida por aquelas bandas.

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