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Causos cotidianos, parte IV

Causos cotidianos, parte IV

Lá no interior das MG ninguém respeitava o Antônio. Chegado numas modernidades, quando se apresentava dizia “Antonio, prazer, mas pode de chamar de Tony”. Antônio que não Tonho ou Tonico não merece a palestra.

Riam-se todos os dias da desgraça da Josefa, empregada do Macedo, lá do 402. Daquelas de antigamente, que dormem em casa e nem sabe o que é carteira assinada. Alguns sentiam pena. Trouxa!, bradavam os mais indignados. É que ele a tratava mal. Eram palavrões, humilhações públicas, um horror!, tudo isso com a conivência de Dona Catita, a patroa. Não se importava, a Josefa. À noite, quando adormecia Dona Catita, os carinhos de Macedo somente ela se fazia conhecer.

Se o mundo hoje começasse o seu fim, começaria pelo Pedro. Bichinho azarado, tinha medo de sair de casa. E não era muito chegado em gente, também. Esperava todos os dias que todos os vizinhos saíssem para o trabalho em seus horários programados, para somente então ir-se ao seu próprio. Tinha uma vizinha, a Lúcia, do 401. Que sempre saía 5 minutos depois do Pedro, avessa a gente que era. Onde vou arrumar alguém que nem eu?, perguntavam os dois todas as noites antes de dormir. Moraram 15 anos no mesmo prédio, sozinhos. Nunca se viram.

Filho de um mecânico corintiano, Artur foi sempre chamado de Tupãzinho. Não é nem que o pai tenha forçado. Tampouco eram de Tupã, cidadela do interior de SP. Acontece que sempre que um carro teimava em não funcionar, aparecia o Artur e na hora o bicho pegava. Virou o talismã da oficina. Certa feita Artur foi fazer faculdade longe de casa, negócio começou a ir mal, quase fechou. Hoje em dia, mora ali perto e dá uma passada todo dia para tomar café com o pai e ver se está tudo em ordem. Negócios vão muito bem, graças ao Tupãzinho!, diz o pai orgulhoso e apreensivo ao mesmo tempo.

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