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A cura para a desolação é a pirraça

A cura para a desolação é a pirraça

(Salvador, Domigo, 19 de novembro de 2017, 18:03h, horário local. No ônibus atravessando o Nazaré em velocidade máxima, motorista e cobrador se engalfinham em acalorado debate. Nem bem haviam se encerrado as mal amanhadas partidas de Bahia e de Vitória pela 36° rodada do Brasileirão. O Bahia perdera para o cambaleante Sport na Ilha do Retiro, primeira derrota de Guardiolani. Libertadores ficou mais longe, já que os concorrentes diretos pontuaram. Já o Vitória empatara em exibição tenebrosa contra o desinteressado Cruzeiro e ainda se via envolvido na fuga contra o rebaixamento. A decepção e a desolação tomavam conta dos dois. O do volante, tricolor; o cobrador, rubro-negro.)
 
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– Coé de mermo, motô? Cadê essa Libertadores, pai? Cadê o “erpanhóu” que cê tava aprendendo?
– Se saia, cabeça, que eu não tô bom.
– Eu acho é graça! Sardinha não tem dia de baleia, não, mô filho!
– Oxe? Rapaz, venha cá: que MORAL você tem pra falar do meu Bahia?
– Seu? Comprou, é?
– Faz-se de besta. E esse seu Vicetória quase caindo?
– Tô na paz. Time grande não cai.
 
O motorista se vira para o passageiro em pé ao seu lado e continua:
 
– Mas eu posso com uma coisa dessa? O cara tá lá comendo o pão que o diabo amassou no rebaixamento e fica arrotando brioche. E olhe que eu nem sei que diabo é brioche! Eu posso com isso?
 
O cobrador retruca.
 
– Véi, aquele adiantado que você pagou pro professor de espanhol tem reembolso?
– Sudamericana, mi amigo. Vou usar muito ainda. E você se ligue com esse Z4 aí! Vai cair, mizéra!
– Já falei que time grande não cai!
– Vicetória!
– Sardinha!
 
Os ânimos exaltados se acalmam e a conversa para. Vê-se o desmantelo em cada um. No motorista, pela expetativa frustrada; no cobrador, por mais uma briga para não cair que parece não ter fim. Mas fim há, precisamente, daqui a duas rodadas. O assunto volta, pela boca do motô tricolô.
 
– E desde quando baleia é peixe, cabeça?
– Oxe? E não é?
– Claro que não! Ó paí, ó…
– Se vive no mar é peixe.
– Deixe de maluquice, vá.
– Então é o quê?
– É mamífero! Mas é burro mesmo… Não estudou, não, foi?
– Mamífero? E dá leite?
– E mamífero dá o quê?
– Véi, quer saber? Me erre, viu? Vá ordenhar um baleio e me largue.
– Vou bater uma vitamina de mamão com açúcar pra você! Vicetória!
– Sardinha!
 
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