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De Caetano, a tanga

De Caetano, a tanga

Caetano e sua famosa tanga na capa do álbum Araçá Azul.

Mudou-se, há alguns meses, um grande amigo de São Paulo em regresso à Bahia, levando família, mala, cuia, cachorro e papagaio. Aproveita as benesses de cada canto. Para os paulistas, com quem ainda convive profissionalmente, é um bon vivant, um verdadeiro professor de joie de vivre: trabalha uns poucos dias na metrópole de concreto enquanto faz especialização em pegar jacaré nos indeléveis mares soteropolitanos. Para os baianos, é o barão do sul.

Mudança é troço complicado e a viagem deve ter durado uma vida, porque segundo sua contagem, despejou pelo caminho 25 quilos. “Tô numa dieta lascada, nem acarajé eu tô comendo.” E os paulistas aqui achando que ele aproveita, tsc, tsc, tsc. “Ainda faltam mais 20! Vou chegar lá!”

Sua autoestima faz a volta na lua e retorna mansa nas areias de Salvador, onde o danado, cadastrado no clube do quase-magros, já exibe tímidas fotos sem camisa nos Instagram da vida. E quem haveria de esconder o fato de não mais ter o que esconder?

“Já tô até vendo”, comento eu, “quando eu for a Salvador só vai dar você correndo na praia.”

Sem perder a pose e o rebolado que eu nem imaginava que ele tinha, responde, pândego, “de tanguinha qual Caetano, magro, magro!”

Veja bem, entenda, não estou aqui para julgar. Afinal, quem sou para dizer o que certo ou errado sobre o privado de cada um? Mesmo ciente da necessária venda da justiça, tal cena de hippie redivivo em pleno século 21 surrou sobremaneira meu já maltratado juízo. Há de se ter um desejo enorme de celebração pelos futuros 45 quilos perdidos, de mostrar o máximo de reduzida pele, antes morada de pneus e circunferências indesejadas defenestradas sem notificação judicial. É a recompensa, ora! Trabalhou dura e arduamente, cuidando para comer acarajés e moquecas escondido da família, recusando convites apetitosos e saborosos por conta da restrição da dieta. Imagine a penúria! Trata-se, indiscutivelmente, de em herói que merece os louros em crochê (ou tricô?).

Ou então, talvez haja uma relação de fã com a vedete de Santo Amaro, e na impossibilidade de ser poeta, de morar no Leblon e de crescer juba encaracolada, acertou-se com a afinidade possível no agora: a tal da tanga, após irmãos em magreza. Ou ainda, – ah, as sutilezas dos desejos contidos, do pré-sal da vontade – a tanga more no seu ideário libertino recém-descoberto pelo próximo fim da dobra abdominal. Possivelmente curta e transe seu valor estético. Uma tanga, mini tanga, tão pequena, pequitinha, miudinha. Ora, pombas! Ora, bolas! Respeite-se seu lugar de falo! Deixa a tanga voar! Questão de gosto, melhor não discutir.

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