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Dia 1: A Cachoeira do Buracão

Dia 1: A Cachoeira do Buracão

Ibicoara, 25 de janeiro de 2017

O dia começou cedo. Antes das 06 horas da manhã já me punha de pé, banho tomado, pronto para a aventura do dia. O tempo, no entanto, estava nublado. Comum por aqui, o dia começa encoberto, transforma-se em céu aberto e calor castigante logo mais. Café-da-manhã tomado, lanches arrumados, água e urna, tudo na mochila.

Você pode se perguntar porque começar um passeio pelo atrativo principal. Corre-se o risco que tudo daqui para a frente seja um pouco de ladeira abaixo, não?

Lembro que havia um propósito: entregar meu pai ao lugar onde escolheu como seu ideal.

Pouco depois das 08 horas da manhã chegamos a Ibicoara. Rapidamente paramos num pequeno casebre de onde saem alguns guias rumo à Cachoeira do Buracão. Lá encontramos um grupo que veio de Macaúbas, aqui mesmo na Bahia, para passar alguns dias trilhando pela Chapada, com quem dividiríamos o passeio com o guia, o Roney.

Roney é nascido e criado em Ibicoara. Aos 38 anos, é guia há 17. Casado com uma colega guia, têm uma filha de 12 anos, a Efigênia. Pode ter sido a experiência como pai que nos colocou no caminho alguém tão paciente e atencioso.

Negociados os preços, seguimos. São 28 quilômetros até a parada dos carros, na entrada do Parque Municipal do Espalhado. Dali em diante, 3 quilômetros de trilha, não muito complicada, mas capciosa nos últimos 500 a 1000 metros.

O Rio Espalhado está vazio. Muito vazio. Reforço que precisa chover por aqui. Lembramos fortemente da virada de 2014/2015, quando fortes águas corriam por estas bandas. Receio se o Buracão vai estar tão magnífica quando a vi pela primeira vez.

– Faz três meses que não chove direito, diz Roney.

As pequenas cachoeiras do caminho não existem. Algumas viraram corredeiras preguiçosas, outras nem isso, porque a água que tem é suficiente apenas para correr por debaixo da terra.

Resolvi não parar para fotos.

No local de encontro no quase-pé da cachoeira, o de praxe. Alguns grupos já se haviam instalado. Precisa tirar a roupa, colocar o colete salva-vidas, e ir nadando contra a leve correnteza para a cachoeira. Ela fica escondida num poço que não se vê na largada. Segue-se numa estreita viela. Algumas das pedras que estão no caminho, aqui não estavam. Não é para menos.

Paredões de lado a lado. Parece estar num cenário d’O Senhor dos Anéis, em breve Orcs devem surgir no meio das pedras. Tudo é lindo. As pedras que encontraram abrigo, mas se vê que esta não era a posição original. As águas cortaram o caminho, algo ruiu com o tempo.

Ouve-se o barulho da cachoeira ao fundo.

No que chegada ao poço se faz triunfal. Entende bem de impressionância a cachoeira. Na primeira vez que a vi, me emocionei. Hoje, pelo fraco das águas, menos. Ainda assim, majestosa, impera sobre todos que ousam beijar seus pés.

Nado até sua base, e me deixo ser batido pelas águas. Uma revigorante e energizante massagem.

Fotos e vídeos não são capazes de capturar o que significa o local. Nem de perto. É uma experiência para ser vivida, não mostrada.

Aos poucos, o grupo de Macaúbas quer chegar onde estou. Nem todos entraram n’água. Durante horas nos entregamos ao poder soberano da cachoeira.

Na falta d’água da Chapada, ela ainda inventa maneiras de manter sua imponência.

Dali a mais um pouco, hora de se despedir daquela que está prestes a assumir um significado inteiramente novo.

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