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Dória é quem dá as cartas no PSDB em frangalhos

Dória é quem dá as cartas no PSDB em frangalhos

(ou por quê ele deveria ser candidato garantido à presidência em 2018)

Esta semana reservou um episódio particular na disputa pelo poder entre os caciques tucanos. Alckmin e Dória travaram uma prolífica batalha de palavras e blefes em rede nacional. De um lado, o prefeito paulistano deixando aberta a possibilidade de sair do partido e insinuando a obrigatoriedade de que seja ele o presidenciável tucano; do outro, o múltiplas vezes governador do estado, que sabe que esta é a sua última oportunidade de ocupar a cadeira maior do executivo nacional, ironizando o prefeito que ajudou a criar. Para analisar o embate entre os dois é necessário deixar de lado a dívida do prefeito com o governador, que o impôs goela abaixo nas prévias, culminando, por fim, com sua posse.

O que quer dizer, então, este bate-boca entre criador e criatura?

Podem-se extrair duas conclusões: a primeira, de que o PSDB está quebrado em sua unicidade, um partido em frangalhos; a segunda, a de que Dória já está fora do PSDB caso não seja o candidato tucano ao Palácio do Planalto. Está ele, portanto, garantido na corrida presidencial de 2018.

Dória percebeu a fragilidade do próprio partido e está jogando com as cartas que têm em mãos. Seus movimentos fazem com que o PSDB tenha que reagir às suas investidas. Adepto de um pragmatismo focado, ele ultrapassa a visceral inércia tucana, o que gera atritos.

Temos que o cenário para o PSDB é o seguinte:

  • Qualquer tentativa de ser governo federal depende da aliança com o PMDB. É sabido que não existe governo em Brasília sem o partidão.
  • Dória é o único candidato eleitoralmente viável no momento dentro do quadro tucano.

O prefeito de São Paulo percebeu sua vantagem competitiva e partiu para o ataque. Dória apostou suas fichas em seu nome. Iniciou sua turnê pelo país, colocando-se como presidenciável desde já. Exalta seu nome como única via para o partido, porque assim dizem as pesquisas. E, para isso, comprometeu sua relação com Geraldo Alckmin, que agora se sente traído pelo pupilo, largando dos boxes.

Mas vale a pena derrubar a ponte que custou tanto ao governador para ser criada?

Vale, se outra ponte já estiver sido construída. Neste momento, entram na equação partidos como PMDB e DEM cortejando o tucano para os seus quadros. Dória vê-se numa situação que parece não ter volta: ou será o candidato à presidência pelo PSDB, ou será o candidato por outro partido. Astuto, percebeu que o PSDB não tem força sem ele. Até porque, seguramente, deve ter o respaldo tanto de PMDB quanto de DEM que eles estarão juntos aonde quer que ele vá.

O PSDB se vê num beco sem saída. O blefe de Dória não é exatamente um blefe: ele tem as cartas nas mãos e controla o jogo. Caberá ao partido entender até que ponto será necessário abrir mão do poder para a nova guarda. Num debate ao quadrado, afinal, se há uma avaliação de qual é o ponto de equilíbrio com o PMDB, agora tem que fazer o mesmo com Dória, e o DEM de bônus. Em resumo, o PSDB é um fantoche manipulado por terceiros. Imagina ter uma perspectiva melhor do que a que efetivamente tem.

Será uma análise para entender que é melhor: a possibilidade de fazer o próximo presidente da República em sua chapa, mas com níveis de concessões a aliados que minariam o poder do partido; ou chama o blefe do prefeito, correndo o risco de se ver fora da corrida presidencial, reduzindo ao mínimo sua relevância, um movimento difícil de ser revertido.

Dória está sendo cirúrgico na sua posição. Ao mesmo tempo, joga no lixo a sua imagem forçada de gestor. Está claro que ele é, sobretudo, um hábil político.

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Crédito da foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO.

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