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História de nomes pré-históricos

História de nomes pré-históricos

Há nomes que caíram em desuso. Alguns podem até fazer parte de suas vidas, mas dificilmente conseguiremos encontrar crianças com esses nomes. O exercício de entender a aplicação prática a essas graças pode levar a searas obscuras e idas.

Haroldo é o sapateiro do bairro. Filho de italianos, mora no bairro da Mooca em São Paulo e acompanha com pesar a iminente extinção de sua profissão.

Armando é o poeta da cidadezinha de Mirapoti, MG. Famosos pelos seus versos, sua fama atravessa a fronteira da cidade e chega até regiões remotas das quais nem ao menos ouviu falar. Nasceu e fez-se homem na pacata vila.

Heitor é um grande advogado tributarista. Formado há mais 50 anos, tem seu escritório de advocacia, que abriu logo após sua aposentadoria compulsória como fiscal da Receita Federal.

Jurandir é um senhor que vive voltando para a adolescência, vez ou outra. É o mais jovem de sua turma, tem espírito aventureiro e é, até certo ponto, destemido.

Juscelino é irmão do Geraldo, ambos garçons de bares da grande BH. Hoje, na verdade, já são mais do que garçons, podem ser chamados de maîtres, talvez. Impossível imaginar tomar um chopp no ponto ideal sem o sorriso fácil da dupla.

Bonifácio é o ancião sábio do asilo das 7 Pontos, no Paraná. Meio senil, suas histórias vão desde a exploração do ouro no norte brasileiro, passando por domar cavalos selvagens no cerrado e vão até secas intermináveis no sertão.

Em comum o fato de lembrarem-se de suas vidas somente a partir de seus 15 anos. Talvez pelo desenvolvimento do livre arbítrio, quando começam a comandar suas vidas e seu crescimento depende mais de suas decisões que das de terceiros. Mas talvez, e principalmente, pelo fato de que eles já nascem com essa idade. Não existe o bebê Heitor, xuxuco lindo da mamãe, o teste do pezinho do Haroldo, nem a tia que fica puxando as bochechas do glorioso infante Juscelino.

– Juscelininho, meu filho, vem jantar!

E volta a criança para dentro de casa, envergonhada com os risos debochados de seus colegas, falando:

– Cristiano. Já falei pra me chamar de Cristiano.

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