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Josy do Cozy

Talvez estejamos acostumados com as distâncias e tempos de São Paulo, com sua sempre mínima meia hora daqui a ali. O restaurante abriria às 18h, mas chegamos com quase meia hora de antecedência. Não deve ter demorado 10 minutos até ali. A vida de deslocamentos em tempos curtos faz com que sobre tempo. No que resolvemos parar um minuto para tomar um café e fazer hora.

Passamos em frente ao Cozy Café, e resolvemos ali ficar.

O menu ficava exposto numa lousa na entrada. Do lado de fora, uma mãe com uma filha terminava seu café. Poucos lugares, 3 mesas dentro, mais duas fora. No quadro, massas, era também restaurante, por que não? Na geladeira que se via em frente à porta, uma torta crocante e outros doces. Uma máquina da Lavazza. E a Josy.

Começamos a conversar com a simpática proprietária.

– Sou de Apodi, no Rio Grande do Norte, mas morava em Natal. Ano passado vim pra cá de férias, na casa de minha tia, e me apaixonei pela cidade. Resolvi ficar. Uma semana depois estava de mudança. Minha tia me ajudou, e logo em seguida a gente achou esse ponto. Eu sempre gostei de cozinhar, ela também. Daí comecei a fazer minhas tortas, meus doces, o pessoal foi gostando… Já tem quase 1 ano que a gente está aqui.

Ela vem mostrar, orgulhosa, a foto de um crepe de banana com Nutella no celular dela.

– Tem um festival gastronômico na cidade, a gente participou com o crepe de banana com Nutella. Olha a foto, que bonita! Foi fotógrafo que bateu.

Ela me entrega o celular. Era bonita a foto. O prato, aparentemente, delicioso. Prometo voltar depois do jantar para a sobremesa.

Promessa feita, promessa cumprida, voltamos para a sobremesa. O crepe fazia jus à foto, realmente saborosíssimo. Na geladeira, uma torta crocante despertava a vontade por mais doces. “Amanhã a gente volta.”

No dia seguinte, lá estávamos, desta vez apenas depois do jantar.

Já fui pedindo a torta crocante e um café. No Cozy, mais gente. “Esta aqui é uma chef de cozinha de outro restaurante aqui em Búzios”, me apresenta para a amiga que espera seu prato. Um grupo de 3 argentinas chega. Josy corre para fazer os pratos, todos feitos na hora. No salão, Rafael, seu marido, vai de mesa em mesa, atencioso.

Josy, de costas, cozinhando uma massa e preparando o molho correspondente, avisa ao marido “Rafael, esse é o pessoal de São Paulo que eu te falei.”

Ele nos cumprimenta.

É notável a felicidade constante, o sorriso incessante nos dois. Josy tem um astral que faz gostar dela num piscar de olhos.

– Josy mostrou a foto do crepe para vocês? – pergunta ele, também orgulhoso do prato da esposa no evento do ano anterior.

Ele nos conta seu tanto que lhe cabe. É de Búzios mesmo e toca o restaurante com a esposa quando não está tocando. Rafael é DJ, até conhecido na Região dos Lagos. Diz, orgulhoso, da sua profissão, da sua luta como músico. E de seu casamento.

– A Josy me conheceu e resolveu ficar aqui!

– Oxe! – Grita ela da cozinha, enxugando as mãos num pano de prato, vindo conversar com a gente. – Foi isso não.

– Ah, não? – pergunta ele para ela, claramente surpreso.

– Não! Eu te conheci uma semana depois que eu estava aqui de vez. Na minha primeira vinda a gente não se conheceu.

– Poxa, eu pensava que era por isso que você tinha ficado…

Ela abraça o marido, dá um beijo nele, como a lhe afugentar a cara tristonha pela notícia, para ele, nova. Há muita cumplicidade entre os dois. Mas, não, não era por ele.

Era pela cidade, mesmo. Como fora para Brigitte Bardot, por que não?

Pelo recomeço, com gente a lhe facilitar o caminho.

O novo amor foi um brinde à coragem. Um adicional que fez com que o talvez virasse certeza. De que estava ali o seu futuro e sua felicidade.
E felizes estão, de sorriso escancarado, aberto.

Quando em Búzios, não esqueçam de dar um pulo no Cozy Café e se abasteçam da energia contagiante da potiguar que chama agora a cidade de sua.

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Esta crônica faz parte da série especial Todos têm uma história.

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