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No embalo do bumbo do Galo Preto

No embalo do bumbo do Galo Preto

Galo Preto, carnaval, Santana de Parnaíba, São Paulo

Quando chegamos a Santana de Parnaíba, migrados da Bahia com parada no Mato Grosso, 1998 virando 1999, eu, adolescente de 16 anos, vivi o Carnaval pela primeira vez. Da Bahia me fui ainda antes de entender o que estava acontecendo, e no intervalo até aportar na grande São Paulo, nada acontecia. “Você precisa ir ao Grito!” diziam os locais com euforia. Caí sem querer no pé da história do samba de bumbo, ou o samba rural paulista, como diria Oswald de Andrade.

A marcação ritmada contante: tum-tum-tum, tum-tum-tum. O primeiro trecho cantado por homens, o segundo na voz fina das mulheres. As letras são de cunho simplório, fácil, que pega, contando causos da região. Dir-se-á que é deste batuque seco que surgiu o samba como o conhecemos, numa variação que incorporou outros elementos. Fato é que está próximo em forma, em estrutura, em ritmo e em gente o samba de bumbo de Parnaíba do samba do recôncavo baiano e interior do Nordeste. Samba de raiz, de roda, de escravos, samba de sambar duro, sem rebolado, não, senhor!

O pau rolou, o pau caiu, lá na mata ninguém viu, mas, meninos, eu vi e ali me apaixonei pelo carnaval parnaibano. O grupo ia em roda, com posse de seus tambores e bumbos e chocalhos e seus cabeções de fazer inveja aos de Olinda a dizer que o Grito chegou, rodeados pela gente que se entrega ao Carnaval de corpo e, principalmente, alma.

No trajeto pelas apertadas ruas do Centro Histórico Parnaibano, todos têm pena e têm dó do galo preto apanhar do carijó. Saúdam Pirapora, alô Cabreúva! Envolvem viúvas, bombeiros, incluem e abraçam quem mais quiser chegar e couber nos versos. Nas casas de gente apinhada nas janelas, o cortejo para, hora de se refrescar: “carreira de pau, carreira de lebre, traz a pinga que nóis bebe.” Os de camarote, acostumados e vivenciados com a quizumba, oferecem garrafas de bebida para serem distribuídas pela horda.

“Por este litro tão querido, obrigado, meu amigo!”

Pois foi no dia 2 de fevereiro deste ano da graça de 2018, sob a pressão da responsabilidade pela bênção de Yemanjá, que o Grito deu vez ao Bloco Galo Preto pelas ruas do Centro Histórico. E o que se viu foi fogo e magia. A noite escancarada, enluarada-quase-cheia, como a observar do alto, permissiva e fingindo que não é com ela, a festa dos comuns ali aos seus pés. Dos instrumentos, labaredas subiam, elevando a temperatura aos mil graus, arrefecida pela bebida gelada de gargalo coletivo.

Aquela mistura toda me pôs comovido. A batucada, a bebida a desinibir, as músicas e os cantos do povo de um lugar, os sorrisos que insistiam em permanecer em todos que acompanhavam no passinho curto, a gente, amigos, família, a lua, Parnaíba que nos acolheu há tanto, as tantas e explícitas expressões de gozo e entrega… Sem segurança e sem cordão, o Galo Preto é manifestação popular, como é o samba de bumbo que sobrevive pela iniciativa de gente que não quer perder raízes e luta para resgatar tradições.

Axé, meu Galo Preto!

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Bloco Galo Preto no carnaval de Santana de Parnaíba

[mks_icon icon=”fa-map-marker” color=”#000000″ type=”fa”] Santana de Parnaíba, Bahia
[mks_icon icon=”fa-camera” color=”#000000″ type=”fa”] Gabriel Galo
[mks_icon icon=”fa-calendar” color=”#000000″ type=”fa”] 02/Fevereiro/2018

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Ver Comentários (2)
  • Bem legal esse post Gabriel! Parabéns!
    Você participou este ano do bloco? Se sim, agradeço pela presença mais uma vez! Mas se não foi possível participar, não tem problema e espero que no próximo ano você esteja conosco!
    Grande abraço!

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