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Os erros de Dória

Os erros de Dória

Na abertura da campanha televisiva de 2014, Aécio já começou errando. Em vez de falar para o público reconhecidamente avesso ao mineiro, prestigiou os seus. O resultado vocês sabem bem qual foi.

Daí que em 2016 começaram as propagandas em TV, e alguém precisa avisar ao PSDB como se ganha uma eleição. O objetivo deveria ser o de chegar a um segundo turno, não o de se posicionar como a alternativa ao PT.

Por quê?

Porque o PSDB é ótimo para ganhar o voto de quem já vota nele.
As pesquisas indicam Russomanno na frente, Marta em segundo lugar, Erundina, Haddad e Dória embolados tecnicamente empatados em terceiro na sequência.

Só que, na ânsia de desconstruir o PT – como se precisasse e a campanha de Haddad já não estivesse no buraco desde a largada – esquece aquele que deveria ser o seu gol. Entendendo melhor, são 2 os erros estratégicos.

O primeiro, a postura de ataque ao PT e seu tiro n’água.

Marta, Erundina e Haddad têm o mesmo perfil de voto: quem vota em um, vota no outro. É um “bloco”. Atacar demais o Haddad pode até fazer alguns parcos votos perdidos saírem da carteira do atual prefeito, entregando de bandeja para Marta se consolidar no segundo turno. Erro primário.

Ah!, mas tem a mensagem de ser, justamente, a alternativa, pensam alguns. Que depois do PT, tem que ser o Dória. Daí me incomoda o caráter indireto demais da mensagem. Veja bem que, neste caso, o objetivo é caçar alguns votos do Russomanno. Seria algo como fazer o eleitor do Russomanno pensar: “poxa, o Dória ataca o Haddad. Portanto o Dória é contra o Haddad. Assim, acho que o Dória é melhor que o Haddad. E como ele é assim muito contundente, é melhor que o Russomanno, né? Melhor deixar de votar no Russomanno e votar no Dória.

Não, né? Não vai dar. Até porque, minha gente, e lá vem as pesquisas corroborar mais um bocadinho, alguns dos votos do Russomanno podem cair no colo justamente da Marta, não do Dória. Por perfil de eleitor.

Daí advém o segundo erro de Dória.

Ele aparece na TV. Propaganda que de tão branca fere os olhos. Ele com uma camisa para fora da calça. Só que a danada da camisa é sob medida, comprida demais pro tamanho padrão. Aquela cara cheia de botox. Sorrisinho maroto. Acelera SP, e o povo do Russomanno pegando ônibus que anda mais rápido com as faixas exclusivas. Aquele ar de que acabou de tirar o suéter rosa do ombro pra gravar. Eleitor olha aquilo e a primeira coisa que pensa é “hum… não.”

Um dia qualquer, perca 10 minutos para ver a propaganda. Haddad desce pro povo. Marta senta para conversar com o povo no barranco. Russomanno entra na casa dos outros, o tempo inteiro com gente do lado. E o Dória? Artificial e distante, vai numa casinha que quem olha vê que nada há de espontâneo naquilo. Sua repulsa é evidente. Basta lembrar da cara comendo um pastel ou tomando uma média. O povo aceita ser enganado, mas não humilhado.

Se o Dória quiser ter qualquer chance de ir ao segundo turno, melhor mudar o rumo totalmente. Primeiro, transformar o Russomanno em seu alvo. Mas não pode ir com muita sede ao pote, para não travar a aliança de um eventual segundo turno. Melhor ir comprar umas camisas de rede de segunda linha para aparecer na TV, abandonando seus monogramas. Dar uma luz mais natural à sua propaganda. Descer para interagir com o povo, aproximar-se dele, falar a língua dele.

Mas o PSDB tem esta dificuldade histórica na cidade de São Paulo. E no Brasil nas últimas eleições presidenciais. Dialogar para aqueles fora do seu círculo parece ser um ultraje para a social democracia paulista.

A tarefa não é simples. Tal qual Figueiredo, Dória também deve achar que o cheirinho do cavalo é melhor. Reverter um nojo acumulado por anos depende de outros tantos anos de tratamento.

***

Tentei ficar longe da política, não consigo. O tópico é atraente demais para ser deixado de lado. Outro ponto é que, ao contrário do que reza a sabedoria popular, política se discute, sim. Não com pedras e facas, numa batalha campal de ideologias rasas, mas com propostas, debates, análises. Aqui, começo a falar das campanhas dos candidatos à Prefeitura de São Paulo, onde moro e mais atrai à atenção os olhos do país. Num primeiro momento, vou ver as campanhas em si, se a comunicação é boa efetiva, se a mensagem agrada e dá chance ao candidato.

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