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Por quê Bolsonaro está eleito

Por quê Bolsonaro está eleito

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Está no controle dos pontos de influência de votos o segredo de uma eleição.

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A apuração do primeiro turno presidencial destas eleições 2018 apontou Bolsonaro com 46% dos votos válidos, se aproximando de uma precoce vitória. Haddad fechou a contagem com 29% dos votos válidos. Faltaria, portanto, muito pouco para que Bolsonaro fosse, por fim, eleito presidente.

A votação expressiva do ex-Capitão foi uma preliminar de um processo que terá seu ponto final no dia 28 de outubro. Por mais que doa admitir, Bolsonaro está eleito presidente desde agora. Já estava desde antes da votação do dia 07 de outubro. A não confirmação de sua eleição dependerá de um fator extraordinário imprevisível, impactando abruptamente a eleição.

A explicação para a garantia da eleição tem origem num discurso simplista mas muito bem articulado e na consequente elevação de uma figura como salvação da uma pátria combalida. Pega carona nas manifestações que varreram o país desde 2013, no crescimento de uma extrema-direita apoiada por manipuladores como Steve Bannon. Mas, principalmente, se fia no domínio dos pontos de influência de votos.

É importante ressaltar que se trata de uma sequência de atividades que compactuam para que se chegue ao ponto sem retorno de agora. Desde a espetacularização da estupidez do parlamentar promovida por TVs em busca de audiência, ganhando corpo com as manifestações e a intimidação de pensamentos contraditórios com posturas auto-evidentes. Mas, principalmente, aniquilou-se a possibilidade de o adversário defender-se.

A eleição de Dilma Rousseff, em 2014, causou uma revolta geral no país. Por dois motivos mais claros. Primeiro, porque os primeiros indícios de corrupção em tamanho inimaginável vinham à tona. Segundo porque convencionou-se chamar a propaganda presidencial petista de estelionato eleitoral. O Brasil lustroso da campanha conflitava com a realidade. Em 2015, o castelo de cartas ruiu. O Congresso iniciou, apoiado por uma forte pressão popular, a arquitetar o impeachment. No mesmo ano, fez-se conhecida a contabilidade criativa de Guido Mantega, expondo as entranhas da manipulação financeira para maquiar um buraco tapado com a peneira. O PT havia, escrachada e reiteradamente, mentido.

Era o prato cheio para que o modelo de Bannon fosse utilizado no país. Criaram-se máquinas de espalhar notícias falsas, as fake news. E neste cenário, como seria possível para o PT se defender de mentiras tendo eles próprios cavado a própria cova de assassinos da verdade? De maneira simplista: não era possível. E ganharam vida teorias conspiratórias absurdas, beirando o infame, porque, afinal, “se estão mentindo este tanto, deve ter muito mais coisa por aí”. Instaurou-se a desconfiança no PT – e na esquerda em linha geral – como premissa. “Deles, tudo duvido. Não serei mais feito de idiota.”

OS PONTOS  DE INFLUÊNCIA DE VOTOS

Chamo de pontos de influência de votos aqueles grupos ou ambientes que são capazes de direcionar o voto de uma pessoa.  Quando há confluência da experiência diária e das dores individuais com um grupo que ecoa “solução”, vemos a consolidação do voto. Historicamente, tivemos os seguintes pontos principais: trabalho, televisão + meios de comunicação, amigos + família e igreja.

No trabalho, vemos alguns casos de empregadores acossando funcionários exigindo voto para Bolsonaro. Este comportamento se espalhou, tendo, em muitos casos, atuado nos bastidores. Há, portanto, um bombardeio de viés direitista que ameaça o próprio emprego. Olhando para fora e o colossal desemprego no país, quem está empregado se protege, quem está desempregado quer mudança.

O que se viu, também, foi o ataque sistemático aos sistemas de comunicação. Televisão, rádio, jornais, revistas, todos foram tratados como parciais. Quaisquer meios que ousassem expor as assustadoras fraquezas do líder supremo eram automaticamente taxados de esquerdistas, vendidos e outros adjetivos pejorativos. Havia, claro, uma necessidade maior: o de controle do conteúdo da informação. A tática era enfraquecer os meios tradicionais e fortalecer vias alternativas que tivessem seu cerne noticioso favorável à agenda.

Assim, gradativamente, seguindo a cartilha bem sucedida de Bannon nos EUA e no Reino Unido, apelava-se para as dores reais do dia-a-dia da população, incutindo medo para provocar reações cada vez mais exageradas, onde a razão seria escanteada. Surgiram, então, grandes páginas de Facebook que transmitiam mensagens, inicialmente suprapartidárias, mas com viés absolutamente bem definido. Surgiu, enfim, uma militância ativa, muito mais poderosa que qualquer uma já vista no Brasil, acima até mesmo do Lulismo. Levantando a bandeira anti-PT, estes movimentos organizados cresceram, organizaram passeatas que reuniram milhões, levando sustento e força à sua retórica. Havia, portanto, “verdade” em sua pauta.

Aos poucos, as mídias tradicionais foram perdendo espaço. Afinal, o que era noticiado poderia conflitar com aquilo divulgado pelos propagadores da verdade controlada, manipuladora. Era necessário ainda, no entanto, dar um próximo passo. Um que aproximasse a gente engajada de toda a população. Sair da via publicação de rede social e fosse para uma luta no corpo-a-corpo, mesmo que virtual. Pessoalidade era a chave. De preferência, uma via que tornasse impossível rastrear a origem de notícias mentirosas. E para isso, nada melhor que o WhatsApp.

O WhatsApp passou a oferecer acesso irrestrito de pessoas muito próximas. Quem tem seu número e a liberdade de enviar mensagens políticas no seu telefone? Justamente amigos próximos e família, mais um dos pontos de influência de votos. Vinda de alguém tão próximo, a mensagem assumia ares de verdade. “Minha família não poderia mentir para mim.”

Assim, a televisão e os meios tradicionais de comunicação implodiram como fator determinante e pontos de influência de votos, dando vez a grupos de WhatsApp e chamados individuais de combate e propagação de conteúdo controlado e direcionado.

O FIM DA LINHA COM O APOIO EVANGÉLICO

O Brasil é um país conservador, religioso. E neste contexto, as igrejas evangélicas possuem preponderância fundamental. Primeiro, pela quantidade de gente. A Assembleia de Deus sozinha, por exemplo, representava 7% do eleitorado em 2014. Segundo pelo fator de influência dos pastores em seus seguidores. Os pastores são pessoas adoradas pelos frequentadores e suas palavras guiam as ações de milhões de pessoas Brasil afora. São seres de fé, líderes e que, percebam a coincidência semântica, têm como meta de vida propagar a verdade – neste caso, a palavra de Deus.

O fator de indicação de voto da igreja, portanto, passou a ser fator político altamente relevante. E altamente disputado.

Pois enquanto a esquerda se empenhava na alavancagem do #elenão, a campanha de Bolsonaro costurava alianças nos bastidores. E no mesmo fim-de-semana em que milhões de pessoas foram às ruas protestar contra o candidato, a IURD e outras neopentecostais, além da própria Assembleia de Deus, confirmaram apoio a Bolsonaro.

O efeito foi devastador. Primeiro, os petistas buscara reverter de maneira mal-amanhada, se empenhando em dizer que “não eram todos os evangélicos”. Só que eram todos mesmo. E além de atravancar o crescimento de Haddad, esta unidade proporcionou migração de um contingente gigantesco de votantes já no primeiro turno ao 17.

Mas a genialidade da ação de campanha de Bolsonaro estava em fechar o ciclo dos pontos de influência de votos em torno de seu nome. Criou-se, assim, uma blindagem impenetrável. Está no controle dos pontos de influência de votos o segredo de uma eleição. E hoje, todas estão dominadas pelo ex-Capitão. Não importando o que diga ou faça, nem ele nem a equipe.

E O QUE PODERÁ FAZER HADDAD?

Hoje, nada muito além de torcer por um evento extraordinário que mude de maneira indelével os rumos da campanha e que seja capaz de romper o controle dos pontos de influência de votos. Convenhamos, estão muito longe disso.

Virtualmente, estamos como nação apenas em compasso de espera da confirmação formal de algo já sacramentado. É, hoje, Bolsonaro o futuro Presidente do Brasil.


Este é o segundo artigo de uma série de ensaios e análises sobre política e estas eleições que se aproximam de seu desfecho.

Parte 1 (16/out): Debater política é baixar o tom de voz


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