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Se veste o manto e salva, é santo

Se veste o manto e salva, é santo

(10 de novembro de 2017, 08:16h, horário de Salvador. Já se haviam passado dois dias depois da 33° rodada do campeonato Brasileiro. Inesperadamente, o Vitória brocou o Palmeiras, atual campeão e, até então, candidato ao título. A repercussão não poderia ser mais alegre, ainda mais depois de fugir da zona maldita. Yago foi o artilheiro do triunfo rubro-negro, estufando duas vezes as redes de Fernando Prass. Na poeira das emoções à flor da pele que se assentaram, é hora de dar vez à razão e ao discernimento.)
 
****
 
Grupo de amigos se encontra na padaria do lado do serviço antes de bater o ponto. No semblante de todos percebe-se a alegria e a tranquilidade. Parece que o pior havia passado. Um deles, no entanto, tem uma dúvida:
 
– Venha cá, como é que funciona esse negócio de santo?
– Que papo é esse, pai, a essa hora da madrugada?
– Tenho uma dúvida aqui e não consigo me acertar.
– Oxe, qual?
– O certo de falar é “santo” ou “são”?
 
Os amigos coçam a cabeça. Nenhum sabe dizer realmente qual a regra.
 
– Veja só. Tem Santo Antônio, São Pedro, São João…
– Porra, São João é massa. Você vão pra onde ano que vem?
 
Começa uma discussão acalorada. São João é tópico que desperta paixões. O duvidoso quase berra pedindo que prestem atenção.
 
– Peraí, porra! Prestenção aqui!
 
Eles olham em silêncio.
 
– Então, “santo” ou “são”?
 
Na parte de dentro do balcão, o camarada pára de espremer umas laranjas e se infiltra na conversa, oferecendo pitaco.
 
– Olhe, se é assim eu não sei. Mas deve ser por causa da letra. Veja só: tudo quanto é “santo” que eu conheço depois vem vogal: Santo Agostinho, Santo Antônio, Santo Inácio. O “são” deve ser quando é consoante: São Pedro, São Paulo, São João.
– Rapaz! Mas e não é que é isso?
 
Eles agradecem o senhor, que volta para o preparo do suco satisfeito com sua exibição de conhecimento. Um deles não parece particularmente satisfeito.
 
– Oxe? E São Ernesto?
 
O suqueiro finge que não é com ele.
 
– Mas, homem, qual o quê? – volta-se a atenção para aquele que formulou a pergunta original – Que diacho é isso de santo e são?
– Ora, mas quá! Santo não é aquele que faz milagre?
– É, ué?
– Então bora correr pra canonizar Yago, o milagreiro da volta do Barradão!
 
Todos fazem sinal da cruz. Ele retoma:
 
– E aí? São ou Santo?
– Santo acho que fica melhor, né? – responde um.
 
O do suco se intromete mais uma vez.
 
– Oxe, Yago tem som de “i”. É santo.
– Lá vem… – retruca o descobridor de inconsistências.
– Rapaz, deixe de implicância com o cabra que ele tá certo. Então pronto. É “santo”: Santo Yago.
 
E a padaria inteira em uníssono arremata:
 
– Amém!
 
***
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