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O Senado perdeu o bonde da história não afastando Aécio

O Senado perdeu o bonde da história não afastando Aécio

Aécio Neves durante pronunciamento na tribuna do Senado após a retomada do seu mandato. CRÉDITO DA FOTO: DIDA SAMPAIO/ ESTADÃO

O Senado poderia ter feito história neste 17 de outubro. Poderia decidir e confirmar o afastamento de Aécio Neves, conforme orientação do STF. Seria uma atuação praticamente inédita para uma casa conhecida por passar as mãos na cabeça de quem dela faz parte. Seria inédita, efetivamente, com um nome tão forte quanto o do Senador mineiro.

Três foram os Senadores cassados até hoje na história do Senado. Luiz Estevão (ex-PMDB/DF) teve seu mandato terminado em 2000 por conta do envolvimento com o desvio de verbas na construção da nova sede do TRT de São Paulo. Luiz Estevão hoje está preso na Papuda em Brasília por múltiplos crimes. O segundo, em 2012, foi Demóstenes Torres (DEM-GO), em decorrência de seu envolvimento com Carlinhos Cachoeira. Em 2016 foi a vez de Delcídio do Amaral (PT-MS) e suas artimanhas expostas na Lava-Jato.

O que estava em jogo era um balanço complexo entre alianças espúrias (e o medo da exposição de suas próprias entranhas) e da exibição de acobertamento com o voto aberto. Estava justamente no voto aberto a oportunidade maior de o óbvio se concretizar.

Aécio tem no currículo mandatos como governador de Minas Gerais, Senador da República, deputado com mais de 30 anos de primeira eleição, neto de ex-Presidente eleito indiretamente, ele mesmo candidato quase vencedor em 2014. Longa ficha que não se equivale às dos cassados.

Chances houve aos montes. Na década de 1960, o pai de Fernando Collor, Arnon de Mello, assassinou outro no plenário do Senado (há alegações de legítima defesa). Foi preso, mas logo solto e inocentado, retornando ao mandato. Já vimos ACM adulterando o painel de votação para garantir que seu resultado fosse facilitado, e continuar sem cerimônias. Para continuar apenas na lista de ex-presidentes da Casa dos Estados, incontáveis são ou foram os processos contra Jader Barbalho, Renan Calheiros e José Sarney (mais muitos outros menos importantes), que passaram apenas com arranhões leves.

Alguns tópicos, no entanto, indicavam que o Senador mineiro estaria perdido.

  1. Sua salvação concreta, irretratável, era a votação secreta. Alexandre de Moraes, Ministro do STF amigo dos tucanos, apunhalou pelas costas o compadre, seguindo o que efetivamente deveria acontecer.
  2. Existia a percepção de que não tem mais volta, de que Aécio é carta fora do baralho, como também fora Cunha.
  3. O Congresso passa por grande reformulação de poderes, então desbancar caciques – que não têm tanto poder assim – significa abrir espaço para novos líderes.
  4. Lembremos do áudio de Romero Jucá “o primeiro a ser comido vai ser o Aécio”.

O fisiologismo, no entanto, foi mais forte numa estrutura de poder que presa pelo rabo preso.

Ainda assim, não se engane. O afastamento não significaria uma guinada para cima na moral do Congresso ou do STF. O primeiro tentou fortemente fazer secreta a votação, caminho para que tudo continuasse como estava, numa suja política de bastidores envolvendo até as eleições de 2018. O segundo acovardou-se na imagem de sua Presidente. Nada de novo no front, a política segue sua rota pragmática ao extremo. Protege-se do jeito que dá e pode e só derruba quem já está caído sem chance de levantar-se. Aécio respirava por aparelhos, mas encontrou forças para não ser enterrado.

A única resposta possível acontecerá em outubro de 2018, quando novas eleições elegerão dois novos Senadores, incluindo a cadeira ocupada pelo tucano. Nas pesquisas, o mineiro surge em quarto lugar nas intenções de voto. Um indício forte de que a recuperação se dará pelas urnas, pelo voto, pela consciência política de um povo. Sem o mandato, o caminho ficaria aberto para novas investidas da PF sem as mazelas do infame foro privilegiado.

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Crédito da foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

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