— Primeiramente, gostaria de agradecer a presença de todo mundo aqui hoje. – Assim abriu a reunião o Nuzman, numa empolgação que não combinava com as paredes cinza e o vaso sanitário à mostra da pequena cela.
— E que escolha a gente tinha? — replicou Sérgio Cabral, para gargalhada geral.
— Que seja. Vim aqui apresentar um projeto que vai revolucionar a história dos esportes. Os primeiros jogos prisionais!
Os olhos da sala brilharam.
— Como é isso, companheiro? — Dirceu tomou a frente.
— A gente tem aqui uma oportunidade única. Temos que fazer do limão uma limonada. Qual vez pudemos nos reunir todos ao mesmo tempo? — Assentiu Nuzman.
— Verdade. Era tudo feito escondido, num quarto de hotel, num escritório de consultoria de fachada… – Marcelo Odebrecht lançou com alguma ironia.
— Escritório que focê adorava! — Palocci comentou, elevando o tom.
— Posso contar do meu plano?
Os presentes fizeram que sim com a cabeça.
Com uma caneta hidrocor, Nuzman iniciou o grande plano rabiscando a parede. Era um projeto ambicioso. Bolsa Encarcerado para atletas com potencial; construção de novos e luxuosos presídios; apoio operacional do PCC e outras facções.
— PCC? — Questionou Dirceu.
— Fiquem tranquilos. Alexandre de Moraes já garantiu o contato. Eles topam.
— E como fai ser? Facção contra facção? Presídio contra presídio? Tipificação contra tipificação? — Palocci estava preocupado com o operacional. – Você pode delatar mais… quer dizer, DETALHAR, DETALHAR mais?
— Filho da p… — Resmungou Dirceu.
— Pensei em seleções estaduais. 27 nações de criminosos unidos pelo esporte! Que lindo! Que bandeira! Isso sim é trabalho de recuperação social. Depois ampliamos para virar global. Serei fundador do COP, o Comitê Olímpico Prisional.
— E onde vão ser os jogos? No Rio? — Cabral já contava os caraminguás extras.
— Brasília! Apressou-se Nuzman. Na meca da criminalidade brasileira! Pensei em transformar o espelho d’água do Congresso num ginásio poliesportivo de última geração. A gente transforma uns prédios ministeriais em cárcere temporário. Claro, com uma reforma de nível olímpico! Nossa Vila Olímpica, por assim dizer. Coberturas triplex, uma fartura!
— Triplex não, que dá ruim!
— Hum, verdade… Então vou também cortar do projeto o sítio na beira do Paranoá.
— E quanto vai custar?
— Por menos de 25 bilhões eu nem saio da cela.
— Reais? — Perguntou Youssef.
— Dólares, meu filho. Já ativa os esquemas.
Youssef puxa o telefone e segue para um canto da sala para trabalhar o fluxo de dinheiro.
— E quem vai pagar essa conta?
Nessa hora todos gargalharam. “Quem vai pagar a conta?” “hahaha, que burro…” “Sabe de nada, inocente!”
— A gente disfarça de emenda parlamentar, fundo de qualquer coisa, isso é fácil, certo, Cunha?
— Já mandei um zapzap pro Rodrigo.
— Tem a Caixa, também. Basta um alô do gordinho! — Geddel queria mostrar serviço.
— Para poder botar para frente este empreendimento grandioso, — Nuzman retomou — a gente agora precisa de uma construtora amiga, parceira…
Todos se viram para Marcelo Odebrecht.
— Puta que me pariu… Assim vocês me fodem, hein?
— Fica tranquilo, Marcelinho. Já está tudo alinhado. Aécio vai ser nosso mensageiro. No começo ele não quis, mensageiro é profissão perigosa, que nem buscador de mala. Mas, no final, topou. Conversando a gente se acerta. É tudo uma questão de quantidade de zeros. Semana que vem ele chega, passa uma temporada aqui com a gente e vai sair para o semiaberto por causa de doença.
— Doença?
— É. Rinite. Ou talvez sinusite. Sabe como é, ele vive de nariz entupido.
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