Houve um tempo, ali de meados dos anos 90 até começo dos anos 2000, que as Copas Regionais foram destaque no Brasil, repensando o calendário do ano e tomando espaço dos estaduais.
As ligas de clubes passaram a ganhar força – especial atenção para a Copa Sul-Minas, que tentou integração com Rio-SP e quase derrubou o monopólio da CBF na gestão do futebol, culminando na implosão do Clube dos 13.
Em 2002, os estaduais praticamente inexistiram e aí a luz vermelha se acendeu também na televisão.
Foi a gota d’água para que CBF, ameaçada pelo poder rebelde dos clubes, se juntasse à insatisfeita Globo para derrubar de vez os regionais e fortalecer o seu feudo chantageando clubes menores com ameaças de estrangulamento financeiro.
Deu certo. Em 2003 houve a última edição da Copa do Nordeste, que levava até então público recorde aos estádios e elevava o futebol da região a novos patamares.
Mas ao mesmo tempo deu errado. As equipes do Nordeste, injustiçadas, se uniram para fazer valer contratos assinados. O imbróglio jurídico fez renascer a disputa em 2010, que foi ganhando cada vez mais relevância com o tempo.
Nesta nova fase, o isolamento histórico da região contribuiu de algumas maneiras. Uma vez fora do radar de prioridade, os clubes ditaram as regras e abriram concorrência na negociação de direitos de transmissão.
Mas, mais importante, perceberam que em conjunto podiam mais. E, sem querer, atingiram uma ferida exposta do nordestino: o orgulho pelas raízes esquecidas de sua gente.
Nordestino retado é aquele que luta por seu povo e sua região. Que no campo de jogo pode produzir embates históricos contra os rivais, mas que passaram a atuar em conjunto no enfrentamento das forças de poder que se concentram quase exclusivamente no Sul-Sudeste.
Com isso, vemos hoje mais centros avançarem, mais clubes subirem, mais dinheiro entrar. Está comprovado: o crescimento sustentável de um, passa obrigatoriamente pelo crescimento do bloco.
Sotaques e histórias somados, a Copa do Nordeste virou símbolo de uma gente que não se entrega nem enverga. Virou resistência. Virou mitologia. E é, por isso, imbatível.
Vida longa à Copa do Nordeste!
Eu sou o Gabriel Galo e esse foi o “90 segundos” versão estendida especial para o Futebol S/A. Me acompanhe também no papodegalo.com.br e nas minhas redes sociais. Um forte abraço e até a semana que vem!
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