No Brasil, existe uma disparidade enorme entre o que é visto e o que o futebol representa para a esmagadora maioria dos atletas profissionais. 95% deles ganham menos de 5 mil reais por mês. E o caso Ronaldinho Gaúcho escancara uma verdade perturbadora: mesmo aqueles que ganharam tudo podem acabar sem nada, seja reputação, seja dinheiro.
Esta dura realidade se transforma em medo do futuro pós-aposentadoria. Foi Paulo Roberto Falcão que disse que “jogador de futebol morre duas vezes, a primeira quando para de jogar”, e esta frase sintetiza bem o sentimento de um atleta que se depara com a finitude de sua atividade, pressionado muitas vezes por ser o sustento de familiares e agregados.
A construção de uma boa relação com a gestão de carreira depende fortemente de 2 fatores que historicamente estão fora da vida dos boleiros. Um é inteligência financeira pra saber o que fazer com o dinheiro; o outro é inteligência emocional, amparada por um trabalho sério com psicólogos, gabaritando maturidade para lidar com tudo o que o futebol representa.
O primeiro caso tem projetos de sucesso mundo afora e que poderiam ser importados. O mais conhecido deles é o da NFL, a liga de futebol americano, em que ex-atletas e outros profissionais buscam prover solução para esta incapacidade de tantos de lidar com o dinheiro.
Mas o fator psicológico é tabu praticamente intransponível. Pesquisas anônimas com jogadores mostram o altíssimo nível de rejeição dos atletas a qualquer intervenção psicológica no dia-a-dia. Preconceituosamente, veem a psicologia como sendo “coisa de maluco”, ou então se enxergam autossuficientes.
As ferramentas estão aí e não são novidade pra ninguém, mas exigem uma mudança de cultura para viabilizar ação coletiva em uma classe tão individualizada. E se isso acontece com Ronaldinho, imagine o que acontece os 95% que vivem a penúria do futebol?
E para quem se pergunta se clubes e ligas deveriam disponibilizar em algo assim, é fundamental entender que o futebol se baseia no atleta, ativo ou aposentado, e tê-lo bem é condição fundamental para eles também estejam.
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