A forma de se jogar o futebol faz com que ele seja menos suscetível a mudanças. Eu explico. A maior parte dos esportes coletivos têm cronômetro travado constantemente. E essa parada constante faz com que interrupções adicionais sejam mais naturais, porque elas interferem menos na fluidez natural do jogo. Por isso, em essência, o VAR é um potencial problema, já que ele insere um elemento estranho na dinâmica do futebol.
(Desde a abolição do recuo com os pés para o goleiro, o VAR é a maior alteração estrutural do futebol. Só que vai além, pois o VAR altera a dinâmica do jogo.)
Nem por isso se pode dizer que o futebol não busca se adequar aos novos tempos. Atualiza regras quando dá e cria sub-produtos, como de o futebol areia, de salão, e outras variações que, se não estão sob o mesmo guarda-chuva da FIFA, são braços do mesmo esporte.
Não creio, portanto, que esteja na atualização de regras ou na adoção de tecnologias o maior aprendizado que o futebol pode absorver de outros esportes. Nem ao menos entendo que minha abordagem de referência seja limitada a esta indústria.
O futebol é esporte que movimenta cifras altíssimas e tem amplo poder mobilizador. Consegue, pela relevância que possui, sair-se impune diante de desmandos e ações no mínimo moral e eticamente suspeitas – quando não abertamente criminosas.
Aprendizado maior
E o levante contra isso deveria partir da união do elo mais fraco, justamente daqueles que são os atores principais da arte.
Ligas americanas têm sindicatos de atletas com poder para definir regras de contrato e salários; na NFL, a liga de futebol americano, os próprios jogadores se uniram para criar uma associação de educação financeira a colegas atletas.
(na NBA, algumas temporadas foram encurtadas, quando não ameaçadas de não acontecerem, por pressão dos atletas para ajustar acordos de salários de atletas.)
Enquanto isso, a maior parte dos atletas profissionais no Brasil vivem de salário mínimo, isso quando são pagos.
Árbitros de futebol sofrem com o amadorismo da profissão e com qualificação capenga.
Clubes menores aceitam migalhas das federações, enquanto estas aceitam migalhas da CBF, e assim sucessivamente.
Estrutura de poder
Alguém sempre está subordinado a outro, numa intrincada cadeia alimentar. E, evidentemente, quanto mais alto na pirâmide alguém se encontra, maior será seu poder. A chave da reversão se trata, portanto, de equalização de condições. Na coragem de se unir e vocalizar ações coletivas.
Essa é uma lição que não vem apenas de outros esportes, quando não de dentro do próprio futebol.
Teorias econômicas foram criadas a partir desse conceito. E se a base mais fraca não se une, seja lá por qual motivo ou justificativa, podem ter certeza: isto só beneficia quem quer que a estrutura do futebol permaneça exatamente do jeito que está.
Eu sou Gabriel Galo e esse foi o 90 segundos especial para o Futebol SA. Me acompanhem também nas minhas redes sociais no @souogalo e no papodegalo.com.br. Um forte abraço, e até a semana que vem.
Acompanhe todos os áudios e textos do quadro “90 segundos” do Futebol S/A clicando aqui.
Ouça o programa completo sobre aprendizado no futebol vindo de outros esportes, de 06 de fevereiro de 2021, no Spotify e Google Podcasts.
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