Afirmar que um clube será sempre um time grande é um despropósito tanto filosófico quando histórico. O filósofo grego Heráclito de Éfeso, citado outras vezes aqui na coluna, afirmou há 2500 anos que, abre aspas, nada existe de permanente a não ser a mudança.
Vivemos a arrogância de estarmos na nossa época. Uma vez vivos, queremos viver para sempre. Assim, descontextualizamos a curva do tempo que, implacável, apaga biografias e memórias. Estamos aqui hoje, mas isso é não mais do que um piscar de olhos, num fluxo que seguirá como se fôssemos um erro estatístico, pois o mundo vai existir mais sem nós que conosco.
E quanto mais nos distanciamos de uma data, menos forte ela se torna.
É um tanto pretensioso, portanto, senão absurdo, crer que o futebol se baseia em solidificações imutáveis. Como se, por sinal, o futebol estivesse aí desde o início dos tempos.
O mundo muda, se atualiza, e, compôs Belchior, o novo sempre vem.
Entendo, contudo, que o apego a símbolos é necessário para que não nos percamos do que significamos como elementos identitários. São atributos de valor pessoal e intransferível. Afinal, se somos por tão pouco tempo, como assim o que nos marca é ainda mais efêmero?
Claro, clubes de futebol movimentam massas. É força coletiva. Vê-los cair é ver uma multidão abdicar de identidades. Só que o efeito é geracional. E não tem vácuo na paixão: será preenchida por outra coisa qualquer, outro esporte, outro time.
Assim, gradativamente, vemos e sempre veremos a reorganização de poderes. Quando história e momento se distanciam, é que há o choque de interpretações sobre a grandiosidade, passada ou futura, adaptando perspectivas ao gosto do conforto de quem as elabora.
E no futebol, para abusar de um clichê boleiro, se entende o quanto uma equipe cresce ou diminui pelo peso percebido da camisa. O efeito do respeito provocado por uma equipe é sinal de sua grandeza, dentro da realidade na qual ela se insere.
O fato é que tudo vai passar. Nada do que temos e somos existirá daqui a não sei quantos anos. No que essa discussão de time grande pode ser sem sentido do ponto de vista histórico e filosófico, mas é valiosa como acolhimento. Manter a memória viva é algo demasiado humano. E lutar para que ela não se vá é um grito de socorro para que não nos vejamos também diante de nossa própria finitude.
Eu sou Gabriel Galo e esse foi o 90 segundos especial para o Futebol SA. Me acompanhe também nas minhas redes sociais no @souogalo e no papodegalo.com.br; Um forte abraço, e até a semana que vem.
Acompanhe todos os áudios e textos do quadro “90 segundos” do Futebol S/A clicando aqui.
Ouça o programa completo sobre time grande, de 13 de março de 2021, no Spotify e Google Podcasts.
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