Já passava das 16 horas de uma terça-feira qualquer. Praia deserta, como haveria de ser pelo remoto do local e pela dita utilidade do dia.
Chegou ela: linda, loira, alta.
Por uns minutos caminhou pela praia. Descalça, segurava suas sandálias na mão. Via o sol se pondo à direita. Sentia as ondas acariciando-lhe os pés e achava graça. Ziguezagueava em busca do ponto máximo de seu alcance, apenas para obter o mais tenro beijo do mar.
Parou para observar as rochas que se viam adiante. O limo que se formava, as bromélias que, contra o ímpeto das águas, saiam tímidas. Estudava como se borrifava a nuvem de pingos após o encontro com a dureza da pedra, a depender de quão forte era o ímpeto. Via uma, depois outra, depois ainda outra. O véu que banhava a superfície e saciava-lhe a sede até o próximo movimento. Pouco adiante, mais próximo da praia, o balançar de um barco atracado onde suspeitava que ali parou quando maré baixa.
Percebeu-se admirada com o vai-e-vem e como a areia engolia seus pés devagar. A linha úmida que subia pelo fundo que se abria.
Distraída, uma lépida torrente mais impetuosa lambeu-lhe as pernas. Pega de surpresa, pulou, no que o reencontro com a pequena poça molhou-lhe de leve o vestido que cobria não mais do que o necessário, o que alimentava a imaginação dos que se permitiam apenas suspirar pelo delineado que se avolumava. Mas ninguém se via, além dela.
No quase adeus do dia, sentou-se na areia. Esticava preguiçosamente as pontas dos pés para que o oceano continuasse sua declaração de amor e seu fetiche. Causava-lhe pequenas cócegas, e ela, de certa forma, sentia-se frustrada quando a espuma não lhe aclamava. Mirava as minúsculas partículas de espuma que se explodiam como a implorar pela volta de sua amada, que a deixara ali para reerguer-se e retornar quando quase mais não houvesse.
Os raios do sol refletidos em seus cabelos, transferindo-lhe o ardor de sua volúpia, enquanto ele recolhendo-se reticente, espiava se ali ela continuava, como a querer voltar correndo se sua sucessora se movesse, aliviado e saudoso, ditador da exuberância que queria se fazer, mas contrariado pela figura – pequena quando a si comparada, enorme pelo que construíamos ser – diante de se si sem nem esforçar-se em fazê-lo, e se ruborescia pelo seu dilema.
No crepúsculo, os sons dominavam o espaço aberto pela luz finita. As gaivotas que ainda buscavam alimento. Outros pássaros que gritavam sua versão do “volta pra casa, menino”. O quebrar das ondas. O farfalhar dos coqueiros que erguiam-se esguios logo atrás.
No laranja-violeta acima do horizonte, percebeu, ao longe, outrem também no mesmo rito. Cumprimentaram-se com o olhar, instintivamente voltando para os seus botões.
Descobriu seu ponto onde não há passado, nem futuro. Onde não poderia ser tocada, nem questionada, nem apressada. Apenas era, e enchia-se de vida a cada longa respiração, que sugava o maravilhamento do que representava a natureza em seu redor.
A contemplação é irmã da meditação: existe, essencialmente, na solidão.
E sem poder ser vista na escuridão, desapareceu de volta ao cotidiano.