Seu Pedro tem 72 anos. Mora num barraco, de 2 cômodos com a esposa, Dona Dulce, de 68 anos, no Buraco do Padre, favela na zona norte do Rio de Janeiro. Nascido no interior do Maranhão, em Imperatriz, chegou ao Rio na década de 60, mais precisamente em 1964, procurando abrigo e emprego. Assentou muita massa.
Rua da Felicidade.
Orgulha-se de estar a 4 estações de trem do Maracanã. Lembra com saudosismo do Flamengo do começo dos anos 80. Alojava-se na geral e gritava por Andrade e Adílio, negros como ele, apesar de suspirar com a leveza de Zico. Voltava para casa feliz da vida com a vitória quase certa do mengão.
Rua da Felicidade. Ria-se.
Depois de uma certa idade, veja só, era um tal de andar de trem de graça e ir ao estádio de graça! Sua alegria de aposentado!
Nem pôde aproveitar muito. Veio o novo Maracanã.
Seu mais velho morreu numa briga do tráfico ainda nos anos 90.
Seu mais novo é motorista de ônibus, e perdeu a conta de quantas vezes foi assaltado. Quer ir conhecer o Maranhão, mas realidade bate pesada, e cadê dinheiro?
O tráfico, a violência, o ar irrespirável, o barraco sem janela, a polícia que entra quase que semanalmente porta adentro pedindo ajuda para ajudar. Nada paralisa de medo o Seu Pedro como deixar de receber a sua aposentadoria.
Recebeu na semana passada uma correspondência do INSS. Não abriu ainda, nem pretende abrir.
Rua da Felicidade. Desapontamento, ironia do destino.
– Fazer o quê, né, meu filho? Vai que me pedem compreensão.
***