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Alaor

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Alguns não curtem porque não são muito chegados a aglomeração. Aquele roçar todo de gente estranha pode ser bastante desagradável. Tem o cheiro, tem o suor, tem a virilha atenta que procura a retaguarda desavisada.

Outros não pulam porque a música não agrada. Axé? Abominável! Frevo? Credo. Sambas enredos? Que chatice!

Tem aqueles que evitam pela necessidade da tranquilidade. Umas bem-vindas férias de 5 dias, quando é possível se isolar do mundo. São Paulo, por exemplo, fica até agradável – ó, heresia! – durante o período.

Há os impertinentes que enxergam que esta festa é de adolescentes, que vão para encher a cara, e bêbado já é troço difícil de aturar, imagine bêbado jovem.

Quase no mesmo time estão os que já não tem mais pique. A idade, o peso e a barriga chegam para todo mundo. O conforto do sofá parece impossível ser deixado de lado.

Fosse eu enumerar o tanto de motivo que existe para que o Carnaval provoque pane na cabeça, ficaria aqui dias e dias, e, convenhamos, não tem prosa que se sustente tanto tempo falando de reclamação.

Permitam-me falar de apenas mais um caso.

O caso do Alaor.

Alaor nasceu em novembro. É filho do carnaval, portanto. Cresceu com a história dos pais que se conheceram num baile no interior, se apaixonaram, casaram, e estão até hoje andando de mãos dadas e trocando bicotinhas.

Só que tudo nessa vida tem limite.

Desde que consegue se lembrar, o carnaval é insuportável para ele. É ele aparecer, e povo cantando em marchinha e apontando para ele:

― A lá Alaor, ô ô ô!

E quando se apresenta, então?

― Esse aqui é o meu amigo, o Alaor.

― Alaor? A lá Alaor, ô ô ô!

Todas as vezes.

TODAS.
AS.
VEZES.

Criou uma aversão à folia que lhe faz mal. Está em tratamento há anos, e embora já chegando nos 40, ainda não consegue se ver livre do trauma. Trocou de psicanalista mais vezes do que foi capaz de contar. Certa feita, gastou 45 minutos e uns caraminguás assistindo ao seu não-mais-futuro-analista rir-se de se dobrar depois de ele contar seus porquês.

É perseguição.

Vai num restaurante do lado de sua casa.

― Além do cardápio, temos um menu especial de carnaval.

Diz o garçom, entregando o pequeno pedaço de papel ao cliente, que logo abaixo lê:

“Lula à la Alaor: R$ 54,90”

Sem nem querer saber do que se trata, grita:

― A PA PUTA QUE O PARIU!

Seu vizinho, piadista, o reconhece:

― Que foi, Alaor? Tá com calor?

Todos no restaurante riem.

Ele odeia o carnaval.

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