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Devagar, miudinho

Devagar, miudinho

Ah, meu amigo, muitas são as armas para a conquista das quais uma mulher pode lançar mão para fisgar-lhe o âmago sem você nem se dar conta do feitiço. Veja bem, não estou me referindo a um processo longo de cortejo. Sequer ouso dizer que há intenção de se fazer desejável. Não.
 
O que atrai é mais singelo. É a unicidade. É aquela fração do tempo em que você se dá conta que o coração pulou uma batida, a respiração ficou presa e as pupilas se dilataram.
 
São muitos e são tantos, que melhor não haver catálogo, pois idiossincrasia não pode virar generalidade. Nesta seara, posso falar mim, por mim apenas, e concedo a você a possibilidade de concordar, ou não, tais quais forem as particularidades que lhe encantam.
 
Nas andanças de por aí fui, já tropecei em muita artimanha. Ah!, como já me apaixonei redondamente num piscar de olhos, num sorriso no meio da multidão, naquela marca do biquíni que escapuliu pra fora da alça do vestido. Já fui arrebatado quadradamente também, ora, por que não? O campo da sedução opera em linhas tortas, retas, pontilhadas e cheias de intersecções.
 
Ah, mas no entanto…
 
Dentro do ali e do acolá, das muitas que já se deitaram e também das que se fizeram negativa, incluindo as que no âmbito do platônico e da observação ficaram, um truque desmonta.
 
A habilidade de uma morena sambar miudinho, sambar de lado, que nem na Bahia, porque é o que tem que ser e assim é.
 
Acredite no que lhe digo, que dentre o tanto que causa tanto, é o pouco que extrapola.
 
Quando se baixa o som da música e todos seguem no ritmo da percussão, é que se vê quem são elas. Sempre com sorriso no rosto, o sambar miudinho tem uma combinação refinada da leveza, da graciosidade, do molejo e do se saber mulher.
 
Pra lá, pra cá, badala o sino.
 
São movimentos de fazer derreter as calotas polares dos corações mais gelados. De depilar com cera quente os corações mais peludos.
 
É nesse balanço que a moralidade se esvai e alma se entrega. Já dizia Paulinho da Viola, “se você quer carinho, eu tô de prontidão”.
 
Nesse embalo, me leve junto!
 
Eis que o sonho pouco dura, normalmente para eu ser acordado em fração de segundo pela realidade que reordena e reestrutura em termos cartesianos. Tem a temporalidade de uma bolha de sabão, que estoura frágil em cores para virar recordação.
 
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