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São Paulo pede socorro

São Paulo pede socorro

Hoje completam-se 160 dias da administração João Dória à frente da maior cidade do país. Com a confirmação de que, pelo 4° mês consecutivo, o índice de acidentes nas marginais de São Paulo cresceu.

Eu entendo que o período é curto demais para poder se estabelecer políticas de longo prazo, mas estou verdadeiramente espantado com a capacidade do prefeito de gerar desastres em sua administração. A elas:

COMBATE AO PIXO

Foi a primeira ação de Dória à frente da prefeitura. Saiu limpando muros com grafite e pichações na cidade inteira. Higienizou o horizonte da Globo no SPTV. Só que…

A tinta doada pela empresa amiga é de qualidade lamentável. O que se vê cidade afora são os muros pintados de Dória desbotando com o tempo. A emenda é muito pior que o soneto: torna-se um borrão de tinta cinza sobre um grafite deformado que se vê abaixo. A Ponte Estaiada já tem pichação de volta. Além do bafafá que se fez pela total incapacidade de entender a diferença entre grafite e pichação, mas enxerga Romero Brito como arte.

VELOCIDADE NAS MARGINAIS

Uma das principais promessas de campanha, aumentar a velocidade das Marginais. O MP entrou com ação tentando proibir, mas o prefeito conseguiu reverter. Perdeu chance de ouro de manter as coisas como estavam. Pelo quarto mês seguido o número de acidentes cresce. O trânsito nas marginais piorou. Em decisão débil, resolveu colocar ais ambulâncias de prontidão nas vias expressas da cidade, corroborando a tendência de mais acidentes.

CICLOFAIXAS

Também promessa de campanha, as ciclofaixas estão sendo apagadas em diversos cantos da cidade, contrariando uma tendência mundial. É custo sobre custo, numa decisão financeiramente ignorante: gasta-se para tirar algo que custou para ser implementado. O uso das ciclofaixas vinha aumentando, faz parte da lenta curva de aprendizado dos usuários, afinal São Paulo é uma cidade que nunca se fez conhecida por respeitar limites àqueles que não têm o próprio carro.

CRACOLÂNDIA

“Ah, mas algo precisava ser feito!” bradam muito. Estes, no caso, adoram as cenas de gente tomando cacete da Polícia. Sorriem discretos, “mereciam muito mais” é o enredo que baila na mente. Acontece que, como foi alertado por todos aqueles capazes de somar 1 + 1, a ação foi inútil e humanamente deplorável. Inútil porque apenas deslocou a Cracolândia para outros tantos pontos da cidade. A Praça Princesa Isabel, a poucos metros da rua Helvétia, assumiu o ponto. Conseguiu a proeza de derrubar prédios com gente dentro. Assassinato a mando do Estado. Para piorar, defende a internação compulsória, atitude que foi derrubada pela Justiça. O problema da Cracolândia é severo e de difícil solução. Existe o idiota que vem com #cracoresiste, um imbecil funcional que quer apenas aparecer em cima do problema dos outros. E existe o idiota que quer ver mais é essa gente morrendo, desejosos pelo extermínio.

CORUJÃO DA SAÚDE

A ideia era originalmente muito boa: utilizar a rede particular de saúde para realização de exames, já que a fila da saúde pública era interminável. Acontece que os números são extravagantes: gasta-se mais nos hospitais particulares do que com exames na rede pública, mas não representam nem 5% do total de exames. Zerar a fila de exames não tem nada a ver com exame na rede particular, portanto. Mas os amigos de Dória ganham MUITO dinheiro. Quem é que sai ganhando, portanto? O povo é que não é?

ASSALTO A MORADORES DE RUA

Retira parágrafo de lei que restringia a apreensão de bens de moradores de rua. Isso gera uma onda de assaltos patrocinados pelo estado justamente contra quem pouco tem. Atitude covarde valendo-se da força da máquina pública. Depois, senhor do bem e da justiça, anuncia a doação de cobertores junto com grande rede de varejo. Entendeu a lógica: ele retira para depois doar, como paladino do amor. Não consigo não me referir a este caso com profundo sarcasmo. É o ápice da maldade dentro da prefeitura.

BULLYING QUANDO CONVÉM

Dória entregou a cabeça de Soninha Francine em praça pública, num vídeo tenebroso, desrespeitoso, ignorante. Depois da ação da Cracolândia, a secretaria de Direitos Humanos da prefeitura pede demissão cuspindo fogo contra a política do prefeito. Alguns, inspirados pelo (mau) exemplo do chefe, divulgam vídeo se orgulhando de fazer seus funcionários de sub-prefeituras dormirem no emprego. Show de horrores. Mas aí… Bem, aí um GCM agride covardemente um morador de rua e… E nada, ora. Você tem notícia do que aconteceu com o GCM? Claro que não. Ele apenas garantiu que o caso seria “investigado”. Provas há, contundentes, caso de exoneração instantânea. Mas não. “Vamos investigar” é eufemismo para dizer “vamos fingir que vamos atuar, mas nada será feito”. Daí também que há pouco o Secretário de Cultura ameaça uma ONG no Centro da cidade, de expulsão do prédio, depois de cortar a subvenção da prefeitura, querendo, atenção, que eles trabalhem de GRAÇA. Polido, diz que vai “meter a mão na cara” dos interlocutores. Para Dória? “Bobagem”, afirmou quando questionado. Porque Dória é um valentão, um bully que odeia ser confrontado. Este GCM, este secretário, estes sub-prefeitos, são fac-símiles do próprio prefeito. Não é possível lutar contra algo que ele vê como tão valioso.

REMÉDIOS A VENCER

Este, do meu ponto de vista, é o pior cenário. Porque é um despropósito em todos os sentidos. Uma irresponsabilidade com o erário público. E uma imbecilidade do ponto de vista humano. Dória assinou acordo de doação de remédios para a rede pública. Isto seria excelente, não fosse o prazo de validade. Tem remédio que vence em junho de 2017. Ou seja: JÁ. Veja que maravilha que é para os amigos de Dória: livram-se do custo de descarte, na casa de dezenas de milhões de reais, transferindo a responsabilidade para a Prefeitura. Sim, remédio tem política de descarte severa. Só que a grande parte destes remédios terão que ser descartados pela prefeitura, por conta do prazo apertado. E aí, quando se faz a conta, o custo de descarte será MAIOR que o valor dos remédios utilizados. Percebam a loucura financeira que isto representa.

OUTROS

Redução da Virada Cultural, da Virada Esportiva e a ridícula campanha de distribuição de bens públicos para administração de terceiros. Somente alguém com severa distorção da percepção da realidade para imaginar que o plano para Interlagos faz sentido ou que alguém vai querer operar um terminal de ônibus. Ninguém quis até o momento. Ninguém vai querer. Porque aquilo é nada sobre nada, é coisa para paulistano ver e se sentir representado e orgulhoso, sem perceber que está sendo feito de idiota.

CONCLUSÃO

Nada se viu sobre construção de hospitais. Aqueles que estavam em andamento dentro da (má) gestão de Haddad, pararam. Nada se vê de construção de creches, rede que estava em franca expansão. Nada se vê sobre planos para a educação. Nada ESTRUTURAL tem sido visto e montado. Nada. O que se vê são ações midiáticas que absolutamente nada representam de importante para a cidade de São Paulo, a não ser para aliviar a consciência daqueles mais chegados à truculência. E, mais do que isso, muita gente está ganhando muito dinheiro neste ínterim: os amigos do prefeito.

Há tempos eu escrevi que Dória tinha a faca e o queijo na mão para ser o maior prefeito da história da cidade, com apoio irrestrito do governo federal e, principalmente, do governo estadual. Ele verifica na prática que, no entanto, os universos de público e privado são fundamentalmente diferentes. E abusa da capacidade de gerar atrocidades. Nunca vi, em tão pouco tempo de mandato, alguém conseguir fazer tanta coisa prejudicial à cidade e à população, sem trazer absolutamente nada de valor de longo prazo.

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