Eu era trabalhado na insegurança. Quem não haveria de ser quando ainda cumprindo o rito de passagem para a vida adulta? Conheci, então, Laís. Laís era daquelas mulheres que eu não poderia acreditar que topassem sair comigo. Essa besteirice caiu com o tempo, mas ali nos idos de 2004-2005, era tudo e muita coisa.
Laís era alta. Toda linda. Quando eu digo toda, meus amigos, é inteira. Fisicamente falando, não tínhamos tido muito contato da primeira e única vez que nos vimos. Qual não foi, então, minha surpresa ao tocar meu telefone, eu saindo de casa para o trabalho num dia de semana que passaria a ser não mais qualquer, e ouvir sua voz do outro lado. Ela queria me ver.
Aqui uma consideração: é um mulherão esta que liga quando tem vontade. Sintoma de segurança e obstinação.
Saímos algumas vezes. Até que, em virtude do trabalho que meu pai fazia na época, ganhei ingressos para a Fórmula 1. Claro, convidei Laís para ir comigo ficar na reta oposta, bem na curva, debaixo de sol e de chuva, arquibancada temporária, comida mais ou menos e banheiros químicos. Schumacher, Montoya, Barrichello, no meio da era Ferrari e da supremacia alemã.
Eram 4 convites. Um amigo topou ir, o Leonardo, e mais uma amiga, a Renata.
O Leonardo era expansivo, bom de papo, e tinha uma tendência para a filha-da-putagem que vinha impregnada no DNA e no sorriso. Além de um severo problema com bebida, alcoólatra que era.
Eu tinha ido à Fórmula 1 no ano anterior e, para minha surpresa, havida sido incrivelmente divertido. Não imaginava tanta putaria e escárnio. Coisa de ruborizar os acostumados a clima de estádio de futebol. Um grupo teve a infeliz ideia de escrever os nomes de cada um na camiseta. Virou coro xingar o Luiz Gustavo. O fiscal senta para descansar entre um treino e outro, para der ultrajado. Uma corrida de bicicleta tem um que fica muito para trás, carinhosamente apelidado de Rubinho. Mulherada que chegava acompanhada era recebida em uníssono: “sócio”.
Não se sabia quem estava na frente, em que volta estávamos.
“Bateu ou foi pro boxe?”
Que vida miserável essa sem smartphone.
Zuniam, zuuuuuuuuummmmmmm, deixando todos atônitos. O ronco do motor era grave, dizem que hoje anda fino. Ainda havia ultrapassagens. Schumacher saiu lá de trás para beliscar pontos mas, decepção, ficou fora do pódio.
Nesta bagunça estávamos nós 4.
O Leonardo rapidamente começou a beber a cerveja quente, uma atrás da outra, sem intervalo nem dúvida, e começou a paquerar a Laís.
Eu não conseguia desfazer o nó.
Que dia, que clima, que aperto!
Ficou-se naquele entrevero de furaruzóio, vai ou não vai.
Expectativa e dúvida.
Não foi, pelo menos ali, explícito. Porque na saída, aí é que está, feliz da vida, Leonardo andava de mãos dadas, Renata de um lado, Laís do outro. Riam-se e seguiam.
Eu ia mais atrás, já absorto, mais querendo saber da multidão e seus comentários e seus comportamentos, que do quase-amor surrupiado debaixo do meu nariz. Que audácia!
Montoya ganhou a corrida; Leonardo, a garota; eu, um nada honroso enfeite de cabeça.
Nos perdemos na bifurcação e não mais nos encontramos.
Nunca mais falei com Laís.
E nem voltei à Fórmula 1, ora pois.
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