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Como funciona a conversa entre direita e esquerda

Como funciona a conversa entre direita e esquerda

Um dia comum na casa da família. Sábado, dia, em teoria, de descanso. A mãe observa os dois filhos brincando tranquilamente. Eles são gêmeos, e têm seus cerca de 8 anos de idade. Desatenta, não percebe quando ambos saem para continuar sua brincadeira no quarto dos pais. De repente, ela ouve alguém gritando “Manhêêêêêêêêê!”

Assustada, ela sai correndo e encontra um dos meninos com uma caneta hidrocor pintando as portas do guarda-roupa.

– João Guilherme! O que você está fazendo?

O menino, sentindo-se acuado, retruca.

– O João Pedro riscou o lençol da cama!

O irmão se sente assustado pela trairagem trocada, afinal, ele tinha chamado a mãe para pegar em flagrante o delito da branca porta do guarda-roupas cheia de rabiscos. Nem dá tempo para a mãe verbalizar o risco visto e o rabiscador de fios não deixa barato:

– Mas ele pisou com o sapato sujo no lençol, olha!

Começa o embate entre os irmãos.

– Ah, é? Eu subi na cama para tentar pegar o brinquedo que você escondeu na prateleira ali de cima!

– Ora, mas era meu!

– Não era, não! Foi meu tio que me deu!

– Então fica trocado pelo meu carrinho que você levou pra escola e perdeu!

– Eu levei porque não deixou eu terminar o meu Lego!

– Porque você riscou meu desenho inteiro!

– Porque você derrubou suco no meu!

– Eu derrubei porque você não parava quieto na cadeira!

– Era você que ficava me perturbando, me chutando embaixo da mesa!

O clima pesou.

– Mas pelo menos eu sei jogar bola direito. Você fica tropeçando, todo torto.

– Mas pelo menos eu sei lavar a louça! E você que não quer fazer nada!

– Nada? Eu lavei o banheiro essa semana. Que você sujou!

– Mas eu, pelo menos eu tirei um 10 na prova. E você que vai pra recuperação de Matemática?

– 10 em Educação Física todo mundo tira!

– Ah, mas eu não mijo mais na cama!

Esta última frase tira João Guilherme do sério. Era mentira, “foi uma molhadinha de nada”, insiste ele em dizer. Atracam-se aos gritos defronte do olhar perplexo, inócuo e imóvel da mãe, como não acreditando que são, ambos, filhos da mesma família, com os mesmos genes, com a mesma criação.

– Porco!

– Burro!

– Mentiroso!

– Bobo!

– Feio!

– A gente é gêmeo, anta!

– Mijão!

– Sabe Matemática e Ciências? Nelas você não passará!

***

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