A Oceania e sua meia vaga foi a primeira a dar adeus. Quer dizer, nem chegou a se despedir, porque nem na Rússia esteve. Acenou de longe, tentou um ‘oi’, mas foi ignorada pela comitiva que seguiu sem parar.
A África, com cinco apontados a embaixadores de seu futebol, foi o segundo continente a empacotar suas malas com algumas matrioskas de lembrança. Nem Salah deu jeito, nem Senegal e seu envolvente jogar, nem Marrocos e sua exagerada falta de sorte – ou de competência finalizadora.
A América Central sabia que o Panamá mais seguia ao leste europeu a passeio, fazendo história pela participação. A Costa Rica não surpreendeu como em 2014 e se foi na primeira fase. Coube ao México a tarefa de representar a Concacaf. Os mexicanos não protestaram, mas o fantasma das oitavas assustava. Não teve jeito.
O Japão foi o um do zerinho ou um da Ásia. Prevaleceu imperioso. Assustou a valente e habilidosa Bélgica. Feriu uma, duas vezes… Mas sem ferida mortal, sucumbiu em seu querer, desprotegido por acreditar que poderia avançar. Desguarnecido, abriu o flanco para sofrer ele o golpe final.
A América do Sul e seus 9 títulos eram a armada contra a hegemonia europeia. Quatro dos cinco representantes chegaram aos mata-matas. Dali pra frente era ganhar ou voltar pra casa. Argentina, merecidamente, e a Colômbia, controversamente, não foram páreo para França e Inglaterra. Havia, por fim, Brasil e Uruguai.
Na Europa diz-se que eu a Copa do Mundo é a Eurocopa com Brasil e Argentina. Claro, um exagero com viés eurocentrista. Recuso-me a ver assim, especialmente após enfadonhos embates entre europeus, e uma vontade incontida de reverter as estruturas de poder. Poder aos mais ‘fracos’! Sonho com uma semifinal eclética, Brasil, Argentina, um africano, um asiático, quem sabe um caribenho… Completamente livre das amarras europeias!
A França, uma vez mais, enterrou um sulamericano e mandou o Uruguai de volta para casa. Tendo deixado o Peru na fase de grupos, a Argentina nas oitavas e o Uruguai nas quartas, com chances de pegar o Brasil nas semifinais – havia a possibilidade de ainda uma final contra a Colômbia, negada pela Inglaterra. Nesta construção, caberia inverter a prerrogativa do eurocentrismo e dizer que a Copa do Mundo seria uma Copa América mais a França.
Só que o Brasil, no mesmo dia, também se despediu. Caiu diante dos belgas. Resistente, lutou até quando pôde. Naquele instante, eram 6 equipes vivas na Copa, todas europeias. Alimentava, infelizmente, o discurso separatista europeu. dos Era, afinal, a Eurocopa do Mundo.
Ainda assim, França e Bélgica, que largam favoritas, possuem grande influência de outras partes, especialmente africanas. São múltiplas as origens, do Norte da África ou Subsaarianas. Os franceses têm Mbappé, francês de origem camaronesa, como líder técnico e futuro do esporte. Os belgas têm Lukaku, de ascendência congolesa, dominando seu ataque.
Os casos são muitos e evidentes. Hoje, no futebol, a balela da pureza de origem está enterrada. Veremos uma globalizada Eurocopa do Mundo, mesmo que ainda europeia, com o estrangeiro crescendo dentro de duas veias. Se não há equipes de outros continentes, há certamente representantes. Uma valiosa mistura de culturas e de integração em harmonia. Uma mensagem de que somos todos iguais, de que é possível unir e conviver. E numa época em que o extremismo nacional renasce, o futebol indiretamente demonstra, uma vez mais, exemplos de civilidade e de avanço.
* Gabriel Galo é escritor
Crônica publicada no site do Correio da Bahia em 9 de julho de 2018. Link AQUI.