Noves fora as pirraças seguidas com a Geração Belga, temos de admitir: é realmente um grupo bom. Mas não ótimo, como apregoam os analistas estatísticos. Nem tanto no cravo, nem tanto na ferradura. Nem lá, nem cá, está ali no meio, na zona isentona do protagonismo do futebol.
Das certezas irrefutáveis, como a morte, os impostos e o cai-cai do Neymar: haveria a Bélgica de cair para uma camisa mais pesada. Era esperado, questão de tempo. Pois se a mandinga não deu certo contra o Brasil, na semifinal tinha a França. Azuis e vermelhos em campo, numa combinação belíssima de cores e toques.
Sem jeito que desse jeito contra o encaixado sistema defensivo francês, o castigo veio pelo alto. Na cabeça de Umtiti – um dos nomes mais fofuxos deste torneio. Justamente contra a equipe mais alta da competição. Suco de ironia. E os Diabos Vermelhos sucumbiram diante dos Galos Franceses.
Reorganizemos as expectativas. Porque favoritismo mesmo, destes de que não se pode duvidar, é quando a França chega forte. Vice-campeã em casa da última Eurocopa, pousou na Rússia com a ânsia de se provar madura. Favoritismo embasado por uma geração talentosíssima e negociada a peso de ouro nas transferências dos novos tempos.
Na real, se tem de se carimbar a alcunha de ótima geração é à da França.
E há coincidências demais nesta equipe com relação àquela de 1998, que destruiu o Brasil no Stade de France, diante de sua torcida.
Pavard, lateral-direito, incorporou o espírito de Lilian Thuram e marcou um golaço para desafogar a França. Se Thuram foi o destaque da semifinal contra a Croácia, Pavard marcou um gol antológico contra a Argentina nas oitavas.
Varane e Umtiti, zagueiros titulares de Real Madri e Barcelona, são segurança e estabilidade, como eram Desailly e Blanc, que suspenso deu lugar a Leboeuf.
Kanté honra a tradição de volantes-formiga, trabalhadores, duros, eficazes no desarme. Como Karembeu em 98, como Makelele depois. A linhagem de volantes franceses é poderosa.
Ou então comparemos a classe de Pogba com Deschamps ou com Petit, o algoz do terceiro gol naquela final que foi uma convulsão de emoções para o Brasil.
As coincidências do ataque, no entanto, são clara demonstração de que com a França não se brinca, não, senhor.
Griezmann é um Djorkaeff redivivo, ponta habilidoso e veloz.
Giroud é o centroavante inútil, que não faz gols, e tem como função única fazer o pivô e se assustar quando a bola chega. E ela chega, principalmente nos pés mágicos do 10 francês…
Mbappé de agora é o Zidane de então. Craque incontestável, líder técnico da equipe. Compensa com uma velocidade impressionante a técnica que não chega a ser zidanesca, mas quem alcança este patamar elevadíssimo de Zidane?
Vão à final, com pinta de título, lideradas no banco em 2018 pelo capitão de 1998. Coincidências demais para serem ignoradas.
Allez, les Bleus! Vive la France!
* Gabriel Galo é escritor
Crônica publiccada no site do Correio da Bahia em 10 de julho de 2018. Link AQUI!