No sábado, O Vitória foi a campo com o time mais jovem deste Brasileirão. O mais velho, Neilton, capitão na partida, tinha apenas 24 anos. Nada menos que seis jogadores vinham das canteras rubro-negras. Mais do que o bem-vindo segundo triunfo consecutivo, viu-se o resgate de uma tradição.
Na longa história rubro-negra, a base sempre foi destaque. Em período de vacas raquíticas, a utilização dos jovens sequer chegava a ser alternativa: era necessidade. E foi pelos pés da base e de uma ambição jamais vista, que o clube cresceu até garantir cadeira cativa entre os grandes. Nos grandes momentos e conquistas, nunca decepcionaram.
Mas, às vezes, o olho gordo da ganância desmedida, aliado a uma comprovada incompetência, faz com que se jogue contra uma cultura que, mais do que enraizada, continua sendo a saída para o crescimento do clube. Estado o Vitória fora do grandes centros concentradores de recursos financeiros, resta a revelação e a venda em multa rescisória inflacionada. Os combalidos cofres do clube agradecem.
Acontece que a infestação de ratos que tomou conta das pranchetas rubro-negras por tantos anos pôs em prática aquela máxima antiga: uma mentira contada mil vezes se torna verdade. E espalharam a falácia que a base não tinha experiência para aguentar uma competição tão dura quanto o Brasileirão.
Assim, em detrimentos dos jovens de 19, 20 anos lapidados nos predestinados campos de Canabrava, chegaram em pacotões de reforços – para refestelo de empresários e suas tenebrosas transações – atletas (sic) veteranos machucados ou jovens sem lastro.
Na obviedade do desempenho indefensável, insistiu-se. “Não temos elenco!” “Tem que contratar, mas não temos dinheiro!” Para os fracos de hombridade, a única defesa é despejar a culpa em terceiros e manter seu mundo de Alice em limpos lençóis imaginários.
Quando, com atraso desmedido, o capitão que furava o casco de seu próprio barco, foi demitido, todos sabiam o caminho. Era tão óbvio quanto inescapável. Estava na base a estrada para a recuperação. Pois Carpegiani chegou com carta branca e promoveu uma colossal mudança. Não só de escalação, mas também de postura.
Ronaldo deu adeus à sua insegurança. Lucas Ribeiro é zagueiro da classe dos grandes e dos eternos, ostentando elegância sublime, tanta que deveria jogar de smoking. Ramon recuperou seu futebol. Bruno Bispo selou a esquerda. Leo Gomes é raça e qualidade na saída de bola. Leo Ceará, de quase aposentado, ressuscitou como goleador. Sem falar de Luan, Nickson, Flávio, Eron, Herbert, Cedric…
Os garotos provaram que há muito valor entre aqueles que sobem. Se não serão todos craques, há sanha, há desejo, há identificação. Há vontade de jogar pela carreira que nasce. E a contar dos resultados que começam a chegar, há, principalmente, a oportunidade de recuperação da honra de uma instituição combalida.
Valhei-me, que a Fábrica de Craques está mais do que viva! Que nunca duvidemos dela. Especialmente, que não mais se aceite o gogó infame que canta como sereia a sua derrocada.
* Gabriel Galo é escritor.
Artigo publicado na página 2 e no site do Correio da Bahia. Link AQUI!
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