Dois amigos se encontram em agitado bar de encontro de torcidas rubro-negras. Vestidos de vermelho e preto, se cumprimentam à baiana, “coé?”, “beleza?”, “é o quê?”, “é niua”, o básico. Falta ainda uma hora para o início do jogo.
– Véi, ainda bem que hoje a vitória é garantida! A gente tá precisando destes 3 pontos de qualquer jeito!
– Rapaz, sei não…
– Oxe! Você ainda diz que é Vitória, né? Issaí é bahia enrustido. Coé, man? Se você não achar que vai ganhar do Paraná, vai ganhar de quem?
– ‘Oxe’ digo eu. Tenha sua calma. Não é pelo Paraná, não. É pelo Vitória mesmo.
– Mas vai ganhar. Depois não diga que eu não avisei.
Enquanto na TV ainda nada, nas redes sociais a escalação é divulgada. O cético puxa assunto.
– Aqui, ó, saiu a escalação.
– Diga aí, vá!
– Ronaldo, Ram… Não, pera…
– Qual foi?
– Quero nem mais ver esse baba. Ó pá isso: Ramon na lateral, Ruan Renato, Benítez…
– Tá tirando com a minha cara, é? Coé? Diga a real aí.
– Tô te falando! Ó aqui, ó – ele entrega o celular ao amigo.
– Orra… Ruan Renato… – momentaneamente abalado, o empolgado toma um ar, busca esperança sabe-se lá de onde e larga ensaiando um sorriso – Mas vai ganhar! Umbora, Vitória!
O jogo começa. Atarrancado, descabeçado, avexado. Era passe errado daqui, erro dali, braga pura. Todo mundo engasgado e com o freio-de-mão puxado. Avanço só no solavanco. Defesa, pra quê mesmo?, a natureza cuida. O zero a zero do primeiro tempo era também a nota do jogo. O cético, sempre ele, busca papo.
– Bom, pelo menos não tá perdendo.
O empolgado, já não mais tanto, mais ainda um pouco, sacramenta.
– É 1 a 0. Pode anotar.
O segundo tempo começa no mesmo diapasão. Desbaratino daqui, desmantelo de lá. Várzea não aceitaria tamanha injúria. Até que numa jogada sem-querer-querendo, o apanhado paranista finca fundo o punhal nas costas rubro-negras. O cético busca consolar o amigo.
– Ainda tem tempo?
– Peraí, man, que eu tô agilizando um esquema aqui no zap. Teve gol é?
– Você é discarado, né? Quer enganar quem? Tava aí empolgado, agora vem pagar de tô-nem-aí.
– Se saia.
O Vitória vai pra cima. Façanhas acontecem. Rhayner, ainda no aquecimento, é expulso de campo. Para tudo tem uma primeira vez. No fim, Leo Ceará cabeceia para as redes. Ninguém comemora muito. Muito menos o ex-empolgado, agora oficialmente de mau humor. O cético grita em sua orelha.
– É gol! Não falei que tinha tempo?
– Tempo de quê, mizéra?
– De empatar!
– Rapaz, essa injúria aí é o Paraná. Nem desse time que tomaria goleada no baba da facu o Vitória consegue ganhar. E você fica aí se empolgando com nada… Eu é que não! E depois ainda ter que torcer pro Bahêa pra não voltar pro Z4? Aonde!
– Oxe, cê é maluco? Agorinha tava aí dizendo que ia ganhar, ‘umbora, Vitória!’, que não sei o quê.
– ‘Se saia’ você! Nunca falei isso!
– Mas doido é doido! Falou e foi um monte de vez!
– Fake news!
– E quer saber? Aposto que não tem esquema nenhum nesse zap aí!
E o uma-vez-empolgado, agora negador da verdade, gritou saindo de perto, pegando suas coisas e se levantando sem nem se despedir.
– Fake news! Issaí é FAKE NEWS! O Vitória é fake news! Pra cima de mim não!