Tudo era, pois, lorota de campanha. Está no silêncio dos apoiadores de Bolsonaro a máxima vergonha da política nacional: não se deve mitificar nomes.
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Eu tenho conhecidos que se orgulharam de ter participado das infames coreografias do Bolsonaro.
Tenho outros conhecidos que estavam seguros de que os valores e a moral, ó-tão-deturpados, o que quer que isso signifique, voltariam.
Um veio de espuma na boca, raivoso, xingar porque via agora renascer a esperança de um Brasil mais patriótico.
Outro ser veio todo serelepe, dizendo que o “mercado” sabia da eleição do Doria. Eleição esta vencida por 1,5%, no esteio do conservadoríssimo interior paulista, e que quase entregou a um completo desconhecido. Aliás, este é o mesmo “mercado” que mandou todo mundo para a Paulista na “eleição” do Aécio em 2014.
Há aqueles que dizem que é necessário torcer, porque, afinal, no meio do caos nos resta tão somente a fé.
Já outros, panos em mãos, dizem que é melhor esperar, que é pouco tempo. Realmente, é pouco tempo. O que torna a relação imbecilidades/hora dos trapalhões de Brasília um recorde mundial.
Outros se escondiam – e boa parte ainda se esconde – de peneiro sob o sol na base do “qualquer coisa menos o PT”.
No extremo, como gremlins molhados, os mais exaltados vociferavam contra “tudissoquitaí”: os minions.
Em muitos casos, uma única pessoa se encaixava em diversas destas caixas.
Diziam que “a mamata ia acabar”. Que “a corrupção seria extinta”. Que o “socialismo” ou o “comunismo”, esse monstro que ninguém sabe o que é, seria coisa do passado. Que a nossa bandeira nunca seria vermelha. Que direitos humanos seria exclusividade para humanos direitos. Que “o bandido está armado e o cidadão de bem indefeso”. Que a ordem seria restaurada, nem que fosse à força.
No meio do embate entre os extremistas, ficaram os moderados. Estes a quem se habituou chamar de “isentões”. Acenavam todos os minimamente razoáveis aos perigos que significavam esta trupe que comanda o Governo por agora. Por dois meios.
O primeiro pela via factual: tudo o que eles diziam ser contra era comprovadamente mentiroso, seja por serem eles, os míticos, apontados em esquemas de corrupção, seja por atribuir a inexistência do “inimigo”, por exemplo, o comunismo.
O outro era o evidente retrocesso das bandeiras erguidas por sua gente. Como subjugar minorias. Como se estabelecer critérios ideológicos para seleção de artes, estudos e o que mais viesse, eufemismo para censura. Como flexibilização de posse de armas. Como a entrada visceral dos evangélicos na ordem decisória e seus quereres preconceituosos e normatizadores. Como apoiar ditaduras e tortura e enaltecer grupos de extermínio.
“É só da boca pra fora”, punham panos quentes.
Nesta toada, chegamos ao ponto em que tudo que era dito por todos era mentira. Ao mito e seus seguidores, toda a verdade, exceto quando falavam “no calor do momento”.
Nada funcionou para evidenciar a iminente barbárie. Fez-se, então, a realidade de Žižek: toma aí a espiral de retrocessos para ver como é ruim e possam, finalmente, parar de estupidez.
Mas quem paga essa conta é todo mundo.
A gente volta aos perfis deste que procuravam argumentar senões para as asneiras da família Buscapé e seus asseclas durante a campanha: SILÊNCIO TOTAL.
Apenas os minions, coitados, ficaram nas trincheiras. Peões com utilidade programada, reproduzir o arsenal de mentiras para iludir o povo.
Pulou todo mundo fora. Alguns ainda ecoam um “e o PT?”, tentando fazer crescer a imagem do inimigo natimorto e inexpressivo – e que insiste em gerar mais argumentos para alimentar o medo da horda ignara, vide Gleisi na Venezuela. Mas vê-se algo sobre as falcatruas de agora e as evidências de viagem ao passado faladas dia sim, outro também? Nada. Nem uma palavra. Nem pra falar do liquidificador assasino (excelente título de filme de terror trash).
Eu entendo. Despejou-se muito tempo e esforço para apoiar esta gentalha. Questioná-los tão cedo – 17 dias, né, vamos com calma – seria admitir terem sido feitos de idiota…
E, ah!, como foram. Passados para trás porque se esqueceram que, no fim, a tal da mudança (a efetiva, paga com dinheiro do povo, aliás) era só uma linha de retórica para ludibriar a massa. Porque mais ultrapassado e baixo que a política que sempre praticaram, impossível.
Tudo era, pois, lorota de campanha. Uma monta de frases feitas, construções esdrúxulas de racional inexistente, sem qualquer apoio em verdade, sustentado em achismo e na “mudança” a fórceps.
Está no silêncio dos apoiadores de Bolsonaro a máxima vergonha da política nacional. Aprendeu-se na base da pancada que não se deve mitificar nomes, senão ideias – e olhe lá, com bastantes ressalvas. Quem põe a mão no fogo por político não bate bem da cabeça. E se deita com a certeza do ridículo de seu papel.
Crédito da foto: Dida Sampaio/AE
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