Há vezes que não resta alternativa a não ser recorrer a clichês. Ao vê-los se repetirem tantas e incessadas vezes, entendemos por quê são sensos comuns espalhados pelos 4 cantos. A confirmação dos ditos, além da graça, traz certa sensação de segurança, um conforto de compreender como as coisas são.
Alguns exemplos seguirão nesta crônica um tanto sarcástica. E o tom terá pretensão de fazer troça com os argentinos, ameaçados que estão da eliminação na fase de grupo contra adversários do quilate de Catar e Paraguai, que desde Gamarra, bem, não é lá essas coisas. A memória me falha às vezes, mas não ao tanto de esquecer que em 2016 este foi nosso rumo com Dunga e seu estilo controverso de se vestir e de ver o futebol.
Bem, clichês.
Tomemos como exemplo o mais reconhecido paraguaio a vagar sobre esta terra: o CAVALO. Vou eu, insolente, ignorar a seleção que larha na frente em seus dois jogos e cede o empate no fim? Chega a ser incoerente (e uma agressão ao cinismo) que no escrete, apesar de ter um Gatito Fernandez, não haja um Caballito Rodriguez.
Pois a piada ruim abre espaço ao dó. Veja você.
Dizem alguns que o maior castigo dos gênios é ter que conviver com medíocres, muitas vezes em posição hierárquica acima. Sim, ora, pois, estou falando de Messi. De quem mais?
A camisa albiceleste é menos sua kryptonita que seus companheiros que parecem não saber o que estão ali a fazer. Nada ele contra a corrente, o avanço diante do retrocesso, o toque em meio às bicudas, a leveza perante o peso irremovível da incapacidade.
Do dó à ressurreição, porque de altos e baixos se faz a narrativa.
Na Copa 2018, Armani viva excelente fase. Ainda assim, Sampaoli, munido da teimosia compatível aos excelentes técnicos de curta duração, apostou em Caballero, que se tivesse se naturalizado paraguaio faria a vida do cronista tão mais fácil…
Cavallero, então, falhou grotrescamente e justificou a irritação de toda uma nação.
Armani assumiu enfim a titularidade, enquanto Caballero foi renegado ao esquecimento. Ontem, encarou a eliminação quase certa de frente no pênalti de Derlis Gonzalez. Pulou preciso, defendeu e vibrou gritando por dentro um “chupa, Sampaoli!” travado há quase um ano.
Da glória ao desmantelo. Eis o VAR e seu papel. Porque juiz só serve pra atrapalhar. (tô falando de futebol, talkei?)
Paladino da justiça, tornou-se vilão na zona cinzenta do apito. Porque tem coisa que é ou não é. Mas tem muita coisa, a maioria por sinal, que é, nao é, pode ser, será?, tudo ao mesmo tempo.
Soma-se a isso o querer ser protagonista quando não é convidado. Tem justiça corrigida, mas depois do pênalti de ontem, o fantasma do favorecimento aos grandes fez bu.
Não que o Paraguai tenha deixado de vencer por causa disso (esta conta vai pra Derlis). Mas a Argentina certamente não perdeu por causa dele. E há diferença grande nesta aparente contradição.
Ao fim, receba os clichês, leve no peito e propague por aí, como bom cidadão que é. Afinal, não fosse o efeito do boca-a-boca maledicente, clichê não seria.
Gabriel Galo é escritor
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Crônica publicada também no Correio*. Link AQUI!