O agitado empate por 2 a 2 entre Uruguai e Japão foi jogo franco e aberto, que seria aprovado no critério Reginaldo Holyfield de saudosismo.
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Muitas são as vertentes de repúdio ao chamado futebol moderno. E eu compreendo este desconforto. A tática rígida, o fim do drible. A letra quem deu há muito tempo foi a dupla Antônio Carlos & Jocafi, em canção profética escrita para a voz de Tite:
“Se o quadradismo dos meus versos
Vai de encontro aos intelectos
Que não usam o coração com expressão”
Está aí a resenha que martela o juízo do futebol moderno. Obliterou-se o coração, a alma aberta em defesas escancaradas e lances mágicos perpetrados apenas pela magnificência estética. Aquela coisa do tempo que se amarrava cachorro com linguiça. Período mais puro, mais lúdico, mais livre.
“Ora, criatura! E o que Reginaldo Holyfield tem a ver com isso?”
Calma, minha comadre, que tudo se conecta.
Disse certa feita o artífice boxéu (lê-se bóqui-céu, informação fonética fundamental para os que não tiveram o privilégio de saber das coisas da Bahia) em entrevista a João Galdea, que reportou em crônica no nosso Correio, sobre o Carnaval da Bahia de antanho. Às aspas:
“No Carnaval sempre teve briga, aquela coisa gostosa de sair na mão um com o outro.”
Ah, o saudosismo dos áureos tempos da aurora das nossas vidas!
Tal qual uma luta entre os arquirrivais Holyfield e Todo Duro, Uruguai e Japão protagonizaram a boa e velha trocação de soco na muqueta. Era jogo franco, aberto, sem muita defesa. Lá e cá. Eram jabs e cruzados e ganchos e diretos e até um golpe baixo no pênalti que o VAR chamou.
Fez sorrir os amantes do futebol alegre, o futebol menino, o futebol que não garra tática e se farta no dibre.
Eis, pois, que o futebol é artimanha que gera túneis do tempo na jovialidade da geração japonesa e na letalidade da dupla de ataque uruguaya. Que se vangloria na combinação improvável de um asiático a disputar a Copa América. Que estimula a fantasia e cai pa mão sem medo.
E ri, poderoso, na cara dos que dizem que foi vencida a arte em detrimento do business. Qual o quê! Ao se ver tão afrontado, se planta e convida:
“Vem tranquilo, irmão. Vem tranquilo.”
Gabriel Galo é escritor
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Crônica do empate entre Uruguai e Japão foi publicada também no Correio*. Link AQUI!