Venezuela não foi páreo para a Argentina e Chile focado supera a Colômbia nos pênaltis. Na hora do vâmo vê, a camisa pesa. Muito.
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No meio da tarde de uma sexta-feira útil (há controvérsias na questão utilidade, mas não divaguemos) a Argentina de Messi pisou no gramado sagrado do Maracanã para enfrentar a briosa e retranqueira Venezuela. Mais tarde, o Chile bicampeão enfrentaria a Colômbia, dona da melhor campanha, defesa zerada, 100% de aproveitamento.
Sextou nas quartas-de-final em confrontos entre equipes que possuem realidades distintas em relação a postura vencedora.
No embate vespertino, a Argentina, na fila desde o longínquo 1993, está acostumada a vencer. Se não necessariamente pela Seleção, são líderes em seus clubes. Messi e Aguero são levantadores em série de troféus, seus companheiros querem vencer sempre.
Já a Venezuela, antigo saco de pancadas da porção sul do continente, a queridinha do VAR nesta Copa América, era azarona. Sem nunca ter vencido competição profissional, traz na bagagem apenas uma semifinal solitária em edições da competição. Ter batido a albiceleste em Madri há 3 meses, no entanto, dava uma injeção de ânimo.
Mas, se treino é treino e jogo é jogo, amistoso é treino, Copa é jogo. E quando é pra valer, a Venezuela mostrou as fragilidades de sempre para ser superada por uma Argentina que, enfim, ensaiou algo parecido com futebol.
Nas semifinais, com isso, garantiu-se um cataclísmico Brasil e Argentina o Mineirão para exorcizar os fantasmas de vexames passados.
Quando a noite paulista já há muito caíra, o trânsito infernal-topzera da megalópole atrasou a chegada do Chile à Arena Corinthians. Pela frente, a temida Colômbia de Carlos Queiroz, a querer provar seu valor.
Só que o Chile se acostumou a vencer. Armados com os grandes nomes de uma geração vencedora, percebe-se uma mentalidade diferente nos chilenos. Como se o bicampeonato virasse uma chave a assumir uma posição que não aceita perder, que não admite o gosto amargo da eliminação.
Ao contrário, o papel de vítima cai muito bem na Colômbia. Tal qual o México, a Colômbia é sempre o time que joga como nunca e que perde como sempre. E tudo bem, porque não corre nas veias o ser usuário do vício do triunfo.
Nos pênaltis, um Chile absolutamente focado, sempre mais perigoso e incisivo, superando até mesmo dois gols anulados pelo VAR,
Quando se espalha o clichê de que a camisa pesa é disso que se fala. O costume do cachimbo deixa a boca torta. É o mesmo conceito que permeia o futebol total de Guardiola, baseado em estatística.
Quem tem mais posse da bola, cria mais chances de gol; quem cria mais, faz mais gols; quem faz mais gols, vence mais.
Seguindo a lógica, temos que quem disputa mais fases agudas de campeonatos, chega mais; e quem sempre chega rumo ao título tem mais chances de vencer.
Na regra da distribuição estatística, maior será a probabilidade de um evento único diferenciado quanto maior for sua amostra de eventos.
E é assim. A Argentina chega. O Chile aprendeu a chegar. A Venezuela nunca chega. A Colômbia chegou uma vez, em 2001, em casa, numa Copa América esvaziada.
Na disputa entre eles, a camisa pesou e prevaleceram aqueles que olham para o caneco com olhos brilhando de “eu quero” e não com ares de desculpas adiantadas de “quem sabe, chegamos”.
Podem haver exceções, claro. Mas exceções, por premissa, não são regra. E a regra indica que os de sempre serão maioria. Pesou o manto albiceleste, pesou a camisa roja, ganhou quem podia e, principalmente, quem quis mais.
Gabriel Galo é escritor
Foto: Lucas Figueiredo / CBF
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Crônica de como a camisa pesa e fez Argentina e Chile avançarem foi publicada também no Correio*. Link AQUI!