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Sobre prevenção ativa de danos

Sobre prevenção ativa de danos

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O que a capa da Veja desta semana sobre Lula e Celso Daniel tem a ver com a bomba do Jornal Nacional? Quando se entende o modus operandi das milícias governistas para prevenção ativa de danos, tudo.

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Vamos falar um pouquinho de prevenção ativa de danos? Acompanhe a cronologia:

Entendendo o modus operandi: a prevenção ativa de danos

Um determinado meio de comunicação se depara com uma notícia que pode ser chamada de “furo de reportagem”. Ele, então, iniciar longo processo de apuração. Ouve os lados envolvidos, parte do livro-base de boas práticas de uma conduta ética. Só que isso demanda tempo.

Só que ao ouvir as partes antes da matéria ser publicada, explicando do que se trata, dá-se a informação de antemão para que o eventual envolvido se proteja de alguma. No mais das vezes, segue-se a linha do bom senso: faz-se de conta que não tem nada a ver com a história, e deixa ela esfriar por si só. Só que tem aqueles que usam de milícias digitais para espalhar mentiras ou assuntos correlatos, seja para descredibilizar o meio, seja para criar narrativa equiparável para servir de cortina de fumaça. É neste segundo caso que se encaixam as táticas ligadas ao governo atual.

Lembra do caso que a Joice Hasselmann propagou da Veja com seus “600 milhões de reais” antes da revista publicar algo que ia contra os interesses da gente instalada no Planalto? Era, então, setembro de 2018, e o objetivo seria “destruir a reputação de Jair Bolsonaro”, evitando que ele fosse eleito.

https://www.youtube.com/watch?v=rg00MYQjFrs

Então, a isso vou chamar que de prevenção ativa de danos. Ou seja: diante do jornalismo que apura e ouve os lados, adianta-se uma narrativa para descredibilizar a futura matéria.

Compreendido? Sigamos com a cronologia.

Um rápido passo-a-passo

  • Bolsonaro solta linhas sobre casos que emergem dias depois, demonstrando saber exatamente o que está acontecendo. Por exemplo, no caso Bivar, presidente do PSL, instaurando uma crise dentro do próprio partido.
08/outubro: Bolsonaro pede para apoiador apagar vídeo porque Bivar estava “queimado”.

15/outubro: PF cumpre mandados de busca e apreensão em imóveis de Luciano Bivar. Não é coincidência.

  • Estranhamente, sem qualquer evidência, sem absolutamente NADA, a suspeitissíma Veja solta capa em 26 de outubro falando de uma frase de Marcos Valério, o operador do Mensalão, dizendo que ouviu o sobrinho-neto do vizinho da vó de um conhecido que num bar, meio bêbado, um cara num grupo disse que Lula ordenou a morte de Celso Daniel.
Capa da revista Veja revivendo o caso Celso Daniel sem qualquer fundamento probatório.
  • Aí na terça-feira, dia 29 de outubro, o Jornal Nacional solta a bomba da investigação que potencialmente liga Bolsonaro ao assassinato de Marielle Franco. (Assista à reportagem no GloboPlay: https://globoplay.globo.com/v/8044834/)

O que a Veja tem a ver com Marielle?

Pense bem. Por meio segundo. Relembre o modus operandi.

Qual foi a intenção da “matéria” pseudo-jornalística de Veja?

No que pode se concluir que reviver o caso Celso Daniel baseado numa mentira (o que são todos os argumentos desta gente senão falácias?) foi um instrumento sórdido de prevenção ativa de danos. Abusaram de um “E o PT?” elevado às últimas consequências. Porque se habilitam a dizer que “Lula, sim, é assassino” e com isso cria um colchão que suaviza o absurdo da notícia de hoje.

Mesmo que o caso Lula seja, assim como o do triplex, fundamentado em nada e em achismo persecutório-paranoico, enquanto o de Bolsonaro é investigação com provas e testemunhas e ligações demais com o caso. Porque os seguidores do culto tosco ao líder sem méritos aceitam qualquer fiapo de possibilidade para livrar a cara do tal mito.

Há uma maldade atroz e um perigo gigantesco nessa gente. E o papel a que a já moribunda em credibilidade Veja se prestou desonra o jornalismo em todas as suas formas. Foram, pois, meio de prevenção para que um presidente da República se safe de uma acusação gravíssima de, no mínimo, ser cúmplice de assassinato.

Lição inquestionável: alguém que não confia nas vias legais para se defender e lança mão deste tipo de subterfúgio praticamente assina uma confissão pública.

O modo de agir está aí, nítido e evidente. Questão de ligar os pontos. Independe de alinhamento político. Fia-se somente num alinhamento ideológico, que endeusa um sub ser em nome da aceitação das imoralidades individuais.

O buraco em que o Brasil se meteu com as eleições de 2018 demorará gerações para ser tapado.

Os efeitos começam a ser vistos no Twitter. A argumentação da prevenção ativa de danos serve a muita gente que não larga o osso do apoio ao governo.

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