Lendo agora
Economia era a peneira tapando o Bolsonarismo

Economia era a peneira tapando o Bolsonarismo

Paulo Guedes, economia, Bolsonaro, Gabriel Galo, Papo de Galo, crise, Bolsonarismo

Restam nas linhas de frente do Bolsonarismo intransigente os rentistas que têm benesses do governo e a população que expõe querer apenas o autoritarismo.

***

Mas aí, veja, os apoiadores fiéis do presidente, aqueles que não arredam patas do Bolsonarismo mitômano, já se ajustaram há tempos. Mas estes ajustes fizeram somente os que ganham com isso.

Os do “mercado”, os Faria Limers, rentistas de toda sorte, bestas que não são, há muito tempo realizaram os lucros do dinheiro na bolsa e entraram pesado nos fundos cambiais. Estão, neste momento, abrindo uma champagne pra comemorar mais um investimento certeiro.

Tem o grupo de empresários de grandes conglomerados que operam na esfera da premiação inabdicável. Como podem eles dar as costas depois de seguidos presentes que cortam benefícios e barganha de funcionários, além de impostos e renegociações a perder de vista, pelo esforço empenhado na eleição? Entraram até o pescoço, receberam pra isso e estão trancados no calabouço, impedidos de saírem porque o rabo preso indica que têm muito a perder.

Tem o lobista do grupo educacional, que saliva na privatização das escolas públicas, enxergando cifras na precariedade definitiva da educação no país. Ou ainda o lobista do setor da saúde, que vê a debacle com excelentes olhos, porque o sucateamento do SUS é proporcional ao seu bônus enorme, e ele já ligou pro colega Faria Limer que vai dar aquela dica infalível para o enriquecimento ainda maior em momentos de crise.

Estes são aqueles que nunca perdem, independentemente de quem esteja no poder. Estes são aqueles que fazem do sofrimento do povo a oportunidade de engorda de contas correntes.

Mas tem, claro, os comuns. Os inexplicáveis.

Tem os empresários que juntaram dinheiro nos governos de antes e veem seus negócios morrerem agora. Tem as pessoas ditas de bem, que convivem no dia-a-dia com o martírio da precarização do emprego, que não terão as benesses de uma economia pujante, como tinham até recentemente, que não poderão nunca mais fazer festa na Disney, que veem o dólar disparar e em breve causar pressão inflacionária, corroendo ainda mais o poder de compra.

Estes, que só têm a perder, mas que mesmo assim se entregam nas trincheiras da desumanização da convivência em sociedade, estão lado a lado com o absurdo porque, para pôr em termos mais concretos, não apenas concordam com as práticas segregacionistas em andamento, mas esperam ser, de alguma forma, premiadas quando o dia do autoritarismo chegar. Se veem como soldados desconhecidos, reverenciados como memória dos comuns mortos em guerra, mas esquecem do detalhe que faz toda a diferença: os soldados desconhecidos homenageados estão, ora, mortos.

O efeito dominó da economia mundial com o medo do sars-cov-2, mais a batalha por controle de preços do petróleo entre Arábia Saudita (em nome da Opep) e Rússia, causa estragos substanciais em países com imbecis no poder. Parte da queda, obviamente, se coloca na conta global, mas não se tem a moeda mais desvalorizada e nem a bolsa que mais cai à toa.

Acabam, aos poucos, os embasamentos pretensamente aceitáveis de apoio, aqueles que vêm pintados de validade econômica. Está sendo tirada a peneira que tapava o sol. Sobra o esgoto do preconceito em que continuam chafurdando, porque a concordância nunca esteve na condução pública da economia, mas sim com o endurecimento do separatismo autoritário, na invisibilidade de minorias, no achaque. E a isto servem de graça, sem se darem conta que em vez de reconhecimento, pagarão o preço pela vida corroída de valores, morais ou materiais, porque o que está em jogo é o desejo de sangue e vingança.

Estes tempos devem ser vistos e interpretados sob a óptica do ressentimento.


Ver Comentários (0)

Deixe um comentário

Seu e-mail jamais será publicado.

© Papo de Galo, desde 2009. Gabriel Galo, desde 1982.