Protegida no suntuoso Palácio de Versalhes, a Casa de Bourbon, da família real francesa, vivia em luxo, alheia às necessidades do povo. Ao ponto da histórica frase de Maria Antonieta, que quando ouviu dizerem que sua própria gente passava fome e não tinha pão, respondeu, jocosa, “que comam brioches”.
A insatisfação generalizada, abafada em repressões violentas do Estado, se transformaram em revolta. Imbuídos do iluminismo corrente, que pregava a racionalidade sobre a divindade, deu-se a Revolução Francesa, sob os valores de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Pela lâmina afiada da guilhotina, Luís XVI foi decapitado. Mas faltava ao movimento cheio de ideais um nome que os liderasse. Os conflitos internos foram tantos e de tal monta que Robespierre, o incorruptível, um dos principais líderes da revolução, foi também decapitado pelos seus colegas de levante, em 1794.
Cinco anos mais tarde emergiu à cena um herói de guerra. Com país arrastado em conflitos por toda a Europa e a bagunça generalizada do governo de transição, o atarracado e genial estrategista general do exército francês retornou de vitoriosa campanha no Egito e tomou para si a responsabilidade de comandar a nação. Seu nome? Napoleão Bonaparte.
Mas as pretensões de Napoleão não eram, por assim dizer, republicanas. Abusando do apoio popular que amealhara, sendo um dos primeiros líderes populistas não ditos-divinos da história, Napoleão validou nova Constituição, outorgando a si próprio plenos poderes e se autointitulando imperador em cerimônia na Catedral de NotreDame, em Paris, no dia 18 de maio de 1804, passando a se chamar Napoleão I, o primogênito de sua linha.
Era algo irônico que a Revolução Francesa tenha, depois de tão pouco tempo, ter visto retornar à nação um regime absolutista, desta feita não teocrático, ao poder.
Ambicioso e obstinado, Napoleão também queria ter a Europa sob seu poder. Iniciou expansão do império francês, conquistando territórios em sequência. Boa parte do território europeu estava sob as ordens de Napoleão.
Mas aí ele inventou de invadir a Rússia e dominar São Petesburgo. A truculência do inverno russo não é à toa uma das mais famosas armas de guerra da história. Além de perder quase todo seu exército, foi inaugurada uma era de seguidas derrotas territoriais. Com isso, Napoleão perdeu poder e apoio.
Ciente de sua derrocada, abdicou do trono em 11 de abril de 1814 e se exilou na Ilha de Elba, a oeste da Península Itálica. Mas não era capaz de segurar seu ímpeto. Fugiu de Elba menos de 1 ano depois de lá ter chegado para retornar a Paris e reassumir seu trono, que a Casa de Bourbon tinha retomado via Luis XVIII. Quando soube da volta de Napoleão, Luis XVIII fugiu, vagando o posto de líder, e Napoleão voltou a ser imperador.
Mas esta que seria sua última passagem no poder foi sofrível. Recoroado em 20 de março de 1815, permaneceu no trono apenas até 22 de junho do mesmo ano, no que ficou conhecido como o Governo dos Cem Dias.
O exército francês foi derrotado pelos britânicos na famosa Batalha de Waterloo. Napoleão foi, então, exilado sob vigília dos britânicos na Ilha de Santa Helena, onde ficou até a sua morte, em 5 de maio de 1821.
Chegou ao fim a vida de uma das mais importantes personalidades da história.
Você deve estar se perguntando agora, “ok, mas o que isso, afinal, tem de lição?”
Perceba a linha do tempo.
Um governo corrupto e alheio aos anseios do povo.
É destronado por um grupo que era cheio de ideais, apartidário, talvez.
Diante da bagunça da transição, o movimento iluminista pavimenta o caminho para que um militar populista assuma o poder e implante seus arroubos autoritários.
Militar que depois abdica do trono, se autoexila, volta para um último suspiro e perde a batalha definitiva, fazendo com que a casa corrupta e insensível destronada pelos revolucionários volte ao poder.
Qualquer semelhança da história francesa com o agora não é mera coincidência.
Há, por óbvio, diferenças fundamentais.
Para começar, Napoleão era General.
Depois, era um genial estrategista com vitórias importantes no currículo.
E terceiro, e mais importante, Napoleão teve consciência de quando havia chegado a sua hora e a honradez de abdicar do trono para não prejudicar ainda mais sua trajetória e seu país.
Artigo na edição #1 da Papo de Galo_ revista, em 05 de junho de 2020.
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