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Consequencialismo no país das maravilhas

Consequencialismo no país das maravilhas

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Se é verdade que há múltiplas realida-des alternativas operando por aí, em alguma delas, probabilisticamente falando, tudo dá certo para gente.

Mas homem é bicho que não aprende e deposita na esperança a certeza de ser capaz de trazer o impossível país das maravilhas para a realidade.

Num episódio de “This is us”, o personagem Randall Pearson, interpretado pelo ator Sterling K. Brown, faz sessões de terapia. Estimulado pela psicóloga, ele embarca na imaginação de cenários alternativos, estipulando o que seria impactado a partir das mudanças que ele faria se pudesse voltar no tempo. No cenário imaginado, cada de sua vida que o incomoda item seria cirurgicamente reconfigurado, em que somente os pontos ruins seriam alterados, permanecendo os bons.

Esta construção narrativa não é exclusiva desta série. Filmes como “Efeito borboleta” reorganiza acontecimentos que desenca-deiam consequências que fogem do padrão “se isso, logo isso.”

Esta é, pois, a falha primordial do consequencialismo: entender que as relações de causa e efeito são tão simples como regras de “se isso, logo isso”. Pelo simples fato de que a vida não é uma equação exata, um código de programação, em que comportamentos são facilmente corrigidos como bugs que atrapalham o sistema. Não estamos na Matrix.

Reduzir a complexidade formidável e incalculável das relações sociais a consequencialismo é um simplismo de que afeta a compreensão do mundo. Porque ao se propor ação a partir deste ponto de vista, e não debater a filosofia moral nele contida, reduz-se tudo ao que falou o jornalista americano H.L. Mencken:

“Para todo problema complexo, existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada.“

É, pois, um enredo de retomada do controle sobre o intangível. Diante da insignificância individual sobre o todo, procuramos desesperadamente nos agarrar a fiapos de controle, por menores e irreais que sejam.

No mundo da fantasia, tudo corre conforme o planejado. Não há erros nem desdobramentos complicados. Há, apenas, um ser fazendo de conta de que é deus-soberano.

Por isso o refúgio da fantasia é tão prazeroso. Nele não há contestação nem dissidência. Na ilusão, tudo se corrige.

Charge: André Dahmer / Malvados

Crônica publicada pela primeira vez com exclusividade na Papo de Galo_ revista #6, páginas 42-43.


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Capa da edição #5 da Papo de Galo_ revista sobre hospitais de campanha em estádios esportivos.

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