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Mas louco é quem me diz

Mas louco é quem me diz

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Sim, tive meu período de bater ponto. Durante os meus primeiros anos como profissional, me fantasiava de terno e gravata e seguia serelepe para a rotina de trabalho, imaginando com faturas e vida garantida.

Passados quase 20 anos da largada da minha trajetória como ser produtor de valor laboral (há controvérsias), em retrospectiva, admito que a única coisa de que sinto falta é da tal estabilidade financeira. De resto? Nada.

Anos atrás, quando a necessidade familiar apontava a urgência do ganha-pão no quinto dia útil do mês, senhor das verdades materiais lançou-se a vender seus ideais, conclamando-me a ceder ao bom senso da vida ó-tão-abonada que ele vivia e abrir mão da loucura em que me lançava.

Mal sabia ele que a real que Os Mutantes na Balada do Louco: se ele tinha 3 carros, eu podia e ainda posso voar. Isso era ainda muito antes de eu me lançar à vida de escritor. Imagine agora, então, o nível de loucura que se adequa ao presente segundo a mente do senhor das verdades.

Quero nem passar perto.

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Charge: André Dahmer

Ele está certo ao analisar friamente os números. Para cada Gil, há milhares de desafinados tocadores de barzinho. Para cada Guimarães Rosa, há milhares de inventores de palavras que não saem do ridículo. Para cada artista de grande obra, há a frustração da grossa maioria que perambula no purgatório da mediocridade. E mesmo os que “lá chegam”, não se pode necessariamente dizer que vivem a boa vida, seja material, psiquiátrica. (ah, o estereótipo de artista duro e atormentado…)

Não se trata, afinal, de estatística. A questão é de outra monta. É metafísica. É existencial.

Eu não existo sem a loucura, sem residir fora da caixa do normal.

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Charge: André Dahmer

Não estou, não me entendam mal, pregando contra o normal. Cada um sabe onde o calo aperta, do que é melhor para si.

Na fala do “faça o que eu digo”, impõe-se a normalização do ser. Abdica-se do pensamento, afinal, que se deixe o todo aprovar para onde se segue.

Se prezo tanto pelo discernimento, o que seria este embarque no trem da coletividade uniforme senão a eliminação da diferença?

Pulei fora.

Mas os boletos insistem em passar por debaixo da porta, por mais carrancas e vassouras coloque atrás da porta. Sina desgraçada/

Eu juro que é melhor não ser o normal. Mas não ser o normal pagando as contas é ainda melhor.


Crônica publicada pela primeira vez com exclusividade na Papo de Galo_ revista #6, páginas 49-50.


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Capa da edição #5 da Papo de Galo_ revista sobre hospitais de campanha em estádios esportivos.

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