Dizia a Joana saber identificar o signo de qualquer um depois de 2 minutos de conversa.
– Acerto de primeira, não erro uma.
– Deixa de conversa mole, Joana!
– Tá vendo? Típico Virgem.
Começou na adolescência. Com essas revistas de adolescente, sabe? O negócio era saber se o signo do Vitinho encaixava com o da Pri, que estava perdidamente apaixonada por ele.
– Ai, amiga! Vai que dá! Tá aqui, ó: Gêmeos com Leão é sucesso.
Estava escrito nas estrelas. Esqueceram de combinar com o Vitinho, que nunca sequer trocou três palavras com a Pri.
Foi aprimorando. O que era passatempo, virou estilo de vida. Para preocupação da mãe.
– Está tudo bem com minha filha, doutora?
– Não sei ao certo…
– Tão Libra…, lá estava a Joana a interromper e a revirar os olhos à médica.
Certa vez causou comoção na família ao recusar-se a aceitar o namorado da mãe.
– Áries com Escorpião? Ela está querendo o quê? Transformar a minha vida num inferno?
Ninguém acreditava na Joana, tadinha.
– Câncer!
– Não.
– Jura? Então, certamente, deve ser o ascendente.
—
A mãe finalmente se atentou para a gravidade da situação quando, depois de uma viagem de férias, voltou para encontrar o quarto de Joana uma réplica de um mapa astral gigantesco.
Abandonou a escola depois de reprovar pela terceira vez o segundo ano do ensino médio. Vida social foi resumida a inexistente. Ninguém aguentava aquela história de signos na turma.
– O que vai ser da sua vida, minha filha?
– Vou provar para o mundo que Astrologia é ciência. Que funciona!
A mãe achava que era uma fase. Qual o quê… Anos se passaram, só piorava.
– Joana, minha filha. Estes aqui são amigos da mamãe.
Dois homens vestidos de branco estavam atrás da mãe, que tentava dar o ar mais afável possível ao momento.
– Deixe-me ver bem estes dois… Hum… Sagitário… e Aquário. Acertei?
Entreolharam-se em reprovação. Caso perdido. Era necessário tratamento. E rápido.
—
– Então, doutor. Faz já 30 dias que minha filha está aqui… Como ela está?
– Fisicamente, está muito bem. Ela se alimenta bem, dorme bem… Mas temo que trazê-la para cá não tenha sido uma grande ideia.
– Por que, doutor?
– Veja bem, ela está cercada por pacientes psiquiátricos. Eles têm alimentado a fantasia de Joana… Um deles, inclusive, foi convencido que tem 12 datas de aniversário diferentes: uma para cada signo.
– Ai…
– Pois é. Agora tem público cativo. Até criaram um nome para ela: Cavaleira do Zodíaco.
– E ainda tem algum tratamento possível, doutor?
– Entenda, estamos tentando de tudo. É complicado conseguir emplacar um tratamento mais prolongado. Ela percebe o que está acontecendo, e se recusa a fazer qualquer coisa que proponhamos.
– Imagino, doutor… Ela é teimosa que só.
– Pois é. Típico Touro.