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A BOLA É MINHA
Pedrinho sai correndo com a bola debaixo do braço direito. Pés descalços, short curto, camisa de seu time, desce a rua para encontrar com a turma. Dois blocos de trave, nove moleques, quatro de cada lado.
– Vamos tirar os times!, grita um exaltado, querendo que o jogo comece logo.
– Marquinhos de um lado e o Vini do outro, que são os melhores. – Já instrui um para não melar o jogo.
Assim se fez.
– Par!
– Ímpar!
– Um, dois, três e já!
– Ímpar, ganhei… Escolho o Juca.
– Antônio!
– Alvinho!
Restavam três. Pedro entre eles.
– Fernando!
– Hum…
Pedro olha firme com cara de dono da bola. Já começa a preparar o discurso, a firmeza do pé batendo por ficar de fora, como que ia levar a bola debaixo do braço, a velocidade da passada.
Mas naquele dia teve jogo.
No duelo entre o ter ou não ter pelada, ao perdedor cabe carregar o fardo.
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PORTEIRO CUMPRIDOR
– Costa, chegou aquele pacote que te falei ontem aí pra mim hoje?
– Chegou, sim, seu Osvaldo.
– Legal! Vou descer aí pra pegar.
– Ih… Vai dar não, seu Cláudio.
– Como assim?
– Vai ter que ir buscar lá na transportadora.
– Por quê?
– A gente aqui na portaria só pode receber pacotes com até 80 cm de largura, e o do senhor tinha 82.
– É sério isso?
Não, não era. A regra não era, que fique claro, inventada que foi ali na hora pelo Costa, afinal quem lê o regulamento e há de lembrar de cada artigo?
O Osvaldo ia ter mesmo que ir até a transportadora. Do apartamento dele, o Osvaldo não pôde ver o sorriso sádico do Costa.
– Esse ano ele aprende a dar caixinha de Natal.
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BALADA
Nunca antes tinham saído os quatro solteiros. Sempre alguém estava namorando. Ou noivo. Ou pior, no caso do Igor, que casou. Nada de repetir as saídas épicas do primeiro ano de faculdade.
– Lembra daquela vez que o Moisés tomou 6 doses de Steinhaeger com cachaça e acordou numa cama em Itaquaquecetuba com a prima do Valtinho? Ou da vez em que, nem sabemos como!, caímos num ônibus indo pra Pedro Juan Caballero com três bolivianos que tocavam flauta no Centro?
Quanta alegria!
Nisso que vida de casado não era aquele que se desenhava, Igor se separou. Era a chance.
Combinaram que naquele sábado iam reviver os bons tempos. O bota-fora do casamento do Igor. Bebidas, mulheres, que será que ia acontecer?
Na fila da balada. Entrou um, depois outro, depois o terceiro. Na vez do Igor, ele sente a mão pesada do segurança no peito.
– Você não.
– Meus amigos acabaram de entrar, estamos juntos.
– Não pode – o gigantesco homem de terno e óculos escuros, apesar de noite caída e deitada, responde olhando para dentro para acompanhar a fila e eventualmente liberar mais gente do lado de fora para serem engolidos pela música abafada que se fazia ouvir.
– Por quê?
O segurança para um segundo, olhando duro pro Igor.
– Porque eu não fui com a sua cara.
Dizem que o Igor voltou com a esposa.
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