Julieta saiu pro baile, vestidinho com barriga de fora, saia que se sentada, revela muito de si para o público.
Romeu, boné de aba reta, cordão no pescoço, de regata e Nike Shox, chega com os parça no pico.
Julieta acabou de sair do ensino médio. Não sabe se vai fazer curso de auxiliar de enfermagem ou se segue a carreira da mãe, esposa devota de seu pai, pastor evangélico. Ela só quer comemorar a alegria da formatura.
Romeu é bicho solto, mano. Passa os dias a dar uns tiros com sua CG, tanque amassado pra afastar os de vadiagem, entregando uns pacote de lado a lado. Corta entre os carro rápido, muito lôco, a hora é pouca, truta.
Julieta tem medo do pai, rígido.
Romeu, teme apenas pegar a blitz pesada na Cidade de Deus, proteger o Bradesco é tarefa número 1 dos gambé.
A faísca foi inevitável. Era o perigoso, o proibido.
Romeu percebe. Pisca o olho pra Julieta. Ela sorri envergonhada. Era o que precisava para ele ir até ela.
– E aí, mina, beleza?
– Beleza.
– Meu nome é Romeu.
– Prazer, Julieta.
Você não ouviu, não estava lá, mas uma música lenta tocou na cabeça de Julieta e se espalhou pelo baile.
– Caraca, mano! Tá vendo? É pra ser. Romeu e Julieta. Que nem nos livro.
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Começaram a se ver escondido. O pai de Julieta não queria a filha envolvida com “este tipo de gente”, e você consegue sentir o desprezo na voz dele por meio das aspas.
Ele a levava para comer um dogão na Maria Campos. Dogão nervoso. Irado. Prensado ou não, à escolha do cliente. Aquela selada de purê que serve na satisfação alimentar e na organização do prato. Uma argamassa de batata amassada pra evitar a fuga da batata palha. Fazia a preza.
– Aí, Julieta, mano, tá ficando complicado pra mim.
– Que foi, Romeu.
– Esse negócio de ficar escondido, e pá. Sem contar a gente não consegue finalizar o amor.
– Ai, Romeu… Já te falei como é o meu pai. Tenho medo de como ele vai reagir.
– Mas o barato é lôco, mina. Parece que fui numa balada sem consumação e não tenho dinheiro nenhum na mão.
– Ahn?, disse Julieta com cara de não entendeu.
– Sério, mina. Os truta tão até tirando com a minha cara.
– Ah… Calma, Romeu…
Ela o acalma, acariciando levemente seu ombro, dando-lhe um beijo reprimido, e pedindo para ele leva-la para casa. Já estava tarde.
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Num sábado à noite Julieta mandou um zap pro Romeu.
– Oi, lindo. Nos vemos hoje à noite?
– Vai dar não, mina. Minha véia precisa de mim.
– Que pena… :'(
Algo, no fundo, incomodava Julieta. Talvez o fato de a mãe do Romeu morar em Minas, não sabia ao certo.
Mandava mensagens, uma atrás da outra, tudo com as duas setinha, mas nada de ficar azul. Foi ficando revoltada. A pulga atrás da orelha tinha criado família. Sábado era noite no baile em que se conheceram. Saiu de fininho sem acordar os pais, seguiu a pé. Queria flagrar o Romeu.
Chegou apenas a tempo de ver o Romeu saindo com uma qualquer do baile, na garupa da CG. Chega uma hora que os parça se cansa de trabalho manual, sabe?
Morreu por dentro, mas não perdeu a pose.
Entrou e ficou com o primo do Romeu, o Robson. Fez dele sua vingança.
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Faz 3 meses que Julieta vive com a tia em Santo Amaro, bairro de São Paulo. Semana que vem começa o curso de enfermagem.
Romeu continua escapando das blitz. Vida lôka.
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Apresentamos, William Shakespeare Osasco
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