Em 11 de março deste ano, Liverpool e Atlético de Madri se enfrentaram em Anfield pela Liga dos Campeões. O jogo terminou 3 a 2 pros espanhóis, e teve outra contagem perversa: estima-se que 41 mortes por coronavírus foram consequência direta desta partida, considerada um dos principais multiplicadores da doença na Inglaterra.
Tanto a UEFA quanto os clubes reconheceram a irresponsabilidade e assumiram o BO. Tinham sangue em suas mãos. Dali pra frente, campeonatos foram interrompidos, partidas voltaram meses mais tarde com portões fechados e até hoje a torcida não regressou às arquibancadas, salvo raros experimentos com pouquíssima gente.
No Brasil, infelizmente, a coisa segue outro rumo.
Com o Flamengo à frente de uma trupe que se mune de um indefensável sentimento de dinheiro acima de vidas, os clubes lavam suas mãos e fingem que negar a realidade significa modificá-la à força.
Em meio ao caos da pandemia, o óbvio vira dúvida, algumas partes se omitem, a gritaria impera e é cada um por si. Se é fato que todos nós, torcedores, temos saudades da arquibancada, como cidadãos temos obrigações coletivas mais importantes. E clube de futebol que não percebe o papel social que exerce, não merece a importância que tem.
VOLTA DA TORCIDA?
Com equipes acumulando dezenas de casos confirmados em seus quadros, além dos números alarmantes de mortes, falar de volta da torcida é o cúmulo do desrespeito, e escancara a maior crise do país: a civilizatória.
Com argumentos de premissas falhas, que deveriam por si invalidar a conversa, assume-se conscientemente o risco de fazer repetir aquele Liverpool e Atlético de Madri de março. Escolhe-se, portanto, voltar a sujar de sangue as mãos do futebol, mas na hora de pagar a conta, fogem da responsabilidade.
Deturpam tudo, inclusive o sagrado: estádio de futebol não é lugar de arriscar a vida, mas de celebrá-la.
Assim, sequer deveria haver discussão sobre a possibilidade de volta da torcida aos estádios. Impor a pergunta à ordem do dia mostra o tamanho do buraco em que o futebol se encontra. E ele é a imagem e o reflexo de uma sociedade literalmente doente.
Eu sou Gabriel Galo e este foi o 90 segundos especial para o Futebol SA. Me acompanhe também nas minhas redes sociais no @souogalo e no papodegalo.com.br. Um forte abraço, e até a semana que vem.
Acompanhe todos os áudios e textos do quadro “90 segundos” do Futebol S/A clicando aqui.
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