Faz 24 anos que eu não moro em Salvador. Faz 24 anos, portanto, que eu não tenho a possibilidade de conviver no cotidiano com tudo o que representa o meu clube de coração. Não posso dizer, no entanto, que me afastei do meu time. Continuo pulsando em rubro-negro.
Principalmente porque a ida ao estádio, essa aventura que solidifica a paixão e a torna intransponível, fez parte da minha formação de torcedor.
Ir ao estádio vai muito além do jogo em si. Tem a excitação pela expectativa da partida que se aproxima, a escolha da roupa e a checagem da mandinga que garante o resultado, o encontro com a galera no pré-jogo, a bebedeira, para enfim entrar no templo sagrado e, na catarse coletiva, sair sem voz e, se tudo der certo, com a vitória, garantindo a resenha. É questão de pertencimento numa grande comunhão de iguais em fé.
Aprendi com o tempo que o afastamento físico não necessariamente significa diminuir a paixão. Estou validado por números: o percentual de torcedores de uma equipe que convivem corriqueiramente no estádio é pequena em relação ao seu todo. Boa parte da torcida já está afastada dos estádios pelo preço impeditivo do ingresso, pelo transporte que não atende, pelos horários que não encaixam. E acompanha o jogo por onde for, tv, rádio, internet. Nesse sentido, para a maioria, tudo permanece quase igual.
Amor à distância à prova
O que difere este momento de agora são 2 fatores. Primeiro que a distância dói menos quando há possibilidade de se retornar ao estádio. O fato de eu saber que o Vitória jogará em São Paulo em algum momento me alivia a alma.
O outro ponto é que o sentimento da convivência com tudo que envolve o jogo é transferível. Aqueles que estão na arquibancada são também aqueles que ali não estão, como se fossem representantes de toda uma gente no momento máximo do futebol.
É aqui que está a dor do futebol para o torcedor em tempos de isolamento. Sim, em breve o público retorna, mas quando? Só que os jogos estão vazios da alma da renovação dos votos de paixão. Sem o torcedor no estádio, o torcedor à distância não consegue recarregar suas. Porque ele sabe que todo o entorno, a expectativa, o encontro, os abraços, a catarse, estão esterilizados pelo afastamento.
Amar à distância o clube de futebol não é assim tão complicado – embora às vezes, confesso, seja muito. Complicado mesmo é ver o espírito do futebol se apequenar pela referência humana que vai se tornando cada vez mais distante.
Eu sou o Gabriel Galo e esse foi o 90 segundos especial para o Futebol S/A e o pro Txelo, que vive o mesmo dilema do amor à distância aí na bancada. Me acompanhe também nas minhas redes sociais no @souogalo e no papodegalo.com.br! Um forte abraço e até a semana que vem.
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