O pecado original da Seleção brasileira é, assim como o pecado original cristão, o afastamento. No caso, o afastamento da Seleção das coisas que significam ser brasileiro.
Basta varrer a história: os maiores ídolos são aqueles que mantém uma relação de proximidade com o povo e suas necessidades. Se tornam, de certa forma, porta-voz e agente da mudança da realidade que vivemos.
Nos últimos anos, no entanto, vimos a Seleção ser composta prioritariamente por quem atua na Europa. Na era Dunga, Londres era a capital do futebol da seleção. Além disso, tivemos a apropriação espúria do manto canarinho como uniforme de extremistas políticos.
Acima de tudo isso, os representantes da seleção se despiram de humanidade e se tornaram verdadeiros robôs, com fotos prontas para mídias sociais e discurso propositalmente vazio.
Seleção é referência
Só que num país que tem o futebol como marco cultural, estar na Seleção brasileira é questão de referência e de identificação. Não que se obrigue alguém a assumir lado em temas sensíveis, mas quando todos se afastam, não se pode reclamar que ninguém mais liga para a Seleção Brasileira. E a exigência surreal de que a Seleção tenha que sempre prover espetáculo ocorre justamente pra suprir essa ausência.
Mas há sinais de reaproximação. Ainda que insuficientemente, mais atletas atuando no Brasil vão sendo convocados. E quando Richarlison aproveita o seu tempo de entrevista para alertar sobre o absurdo que acontece no Amapá, ele está assumindo a responsabilidade como ídolo e estendendo o braço ao povo, mostrando que é gente como a gente, ao mesmo tempo em que veste os símbolos nacionais que aprendemos a idolatrar.
Torço para que talvez estejamos assistindo a um ponto de inflexão, em que robôs com media training e patrocínios se tornam demasiado humanos, em gente com quem podemos nos identificar, que diga tâmo junto. E se o afastamento é o pecado original, entendo que é no estreitamento de laços humanos que podemos restabelecer a fé na Seleção Brasileira.
Eu sou o Gabriel Galo e esse foi o 90 segundos especial para o Futebol SA. Me acompanhem também nas minhas redes sociais no @souogalo e no papodegalo.com.br. Um forte abraço e até a semana que vem.
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